domingo, 23 de agosto de 2015

Canto para as mãos partidas de Victor Jara

Quisera chorar teus dedos dilacerados:
raízes do meu canto subterrâneo.

Quisera chamar-te "hermano"
como a infância dos rios
lava o rosto da terra,

mas minha boca sangrava
um silêncio de canções amordaçadas.

De tuas mãos se dirá um dia:
geravam pássaros de sangue
como as primaveras da lua.

Tuas mãos,
tristes descendentes das canções araucanas,
tuas mãos mortas,
casa de canções decepadas,

tuas mãos rotas,
últimas filhas do vento,

guitarras enterradas sem canto,
sementes de fuzis,
seara de sangue.

Quisera entregar
minhas mãos inúteis
ao cepo dos carrascos.

Poema de Pedro Tierra com data de 2/5/1976 do livro Poemas do Povo da Noite, 
1ª edição, abril de 1979.