domingo, 28 de fevereiro de 2016

Liberdade


O homem é livre na exata medida em que tem o pode para existir e agir segundo as leis da natureza humana [...], a liberdade não se confunde com a contingência. E porque a liberdade é uma virtude ou perfeição, tudo quanto no homem decorre da impotência não pode ser imputado à liberdade. Assim, quando consideramos um homem como livre não podemos dizer que o é porque possa deixar de pensar ou porque possa preferir um mal a um bem [...]. Portanto, aquele que age e existe por uma necessidade de sua natureza, age livremente [...]. A liberdade não tira, mas põe a necessidade do agir.

Tratado Político, 2, §§ 7 e 11, G, III, pp. 279-80. 

Transcrito de Política em Espinosa, Marilena Chauí, Companhia das Letras, 2009, pag. 152. 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Federico Garcia Lorca - Política e sociedade


Do Partido dos pobres
Eu sei pouco, eu apenas sei - lembro-me destes versos de Pablo Neruda - mas neste mundo eu sempre sou e serei partidário dos pobres. Sempre serei partidário dos que não têm nada e até a tranquilidade do nada lhes é negada. Nós - refiro-me aos homens de significação intelectual e educados no ambiente médio das classes que podemos chamar acomodadas - estamos fadados ao sacrifício. Aceitemo-lo. No mundo já não lutam forças humanas, mas telúricas. A mim me põem numa balança o resultado desta luta: aqui, tua dor e teu sacrifício, e aqui a justiça para todos, ainda com a angústia do trânsito para um futuro que se pressente, mas que se desconhece, e descarrego meu punho com toda minha força neste último prato da balança.

Entrevista a Alardo Prats por Federico Garcia Lorca em Os artistas no ambiente de nosso tempo no ano de 1934 e publicada por Companhia José Aguilar Editora no volume III - Prosa Viva/Ideário Coligido em 1975. 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Federico Garcia Lorca - Literatura e juízos literários



Criação poética
A criação poética é um mistério indecifrável, como o mistério do nascimento do homem. Ouvem-se vozes não se sabe donde, e é inútil preocupar-se em saber donde vem. Como não me preocupei com meu nascimento, não me preocupo com a minha morte. Escuto a natureza e o homem com assombro e copio o que me ensinam sem pedantismo e sem dar às coisas um sentido que sei que não tem. Nem o poeta nem ninguém tem a chave e o segredo do mundo. Quero ser bom. Sei que a poesia eleva e, sendo bom, para com o asno e para com o filósofo, creio firmemente que se há um além terei a agradável surpresa de encontrar-me nele. Mas a dor do homem e a injustiça constante que emana do mundo, e meu próprio corpo e meu próprio pensamento evitam que eu traslade minha casa para as estrelas.

Entrevista a Bagaría por Federico Garcia Lorca em Diálogos de um caricaturista selvagem no ano de 1936 e publicada por Companhia José Aguilar Editora no volume III - Prosa Viva/Ideário Coligido em 1975. 

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Federico Garcia Lorca - Palestra sobre teatro (trecho)

"El teatro es la poesía que se levanta del libro y se hace humana".
Federico Garcia Lorca



O teatro é uma escola de pranto e de riso e uma tribuna livre onde os homens podem pôr em evidência morais velhas e equívocos e explicar com exemplos vivos normas eternas do coração e do sentimento do homem. 

Um povo que não ajuda e não fomenta seu teatro, se não está morto, está moribundo; como o teatro que não recolhe a palpitação social, a palpitação histórica, o drama de suas gentes e a cor genuína de sua paisagem e de seu espírito, com riso ou com lágrimas, não tem direito de chamar-se teatro, mas sala de jogo ou lugar para fazer essa horrível coisa que se chama "matar o tempo". Não me refiro a ninguém, nem quero ferir ninguém; não falo da realidade viva, mas do problema plantado sem solução. 

Ouço todas os dias, queridos amigos, falar da crise do teatro, e sempre penso que o mal não está diante de nossos olhos, mas no mais escuro de sua essência; não é um mal de flor atual, ou seja, de obra, mas de profunda raiz, que é, em suma, um mal de organização. Enquanto atores e autores estiverem em mãos de empresas absolutamente comerciais, livres e sem nenhum controle literário nem estatal de espécie alguma, empresas jejunas de todo critério e sem garantia de nenhuma classe, atores, autores e o teatro inteiro se desmoronarão cada dia mais, sem salvação possível. 

Trecho de Palestra sobre teatro proferida por Federico Garcia Lorca em Heraldo de Madri no dia 2 de fevereiro de 1935 e publicada por Companhia José Aguilar Editora no volume III - Prosa Viva/Ideário Coligido em 1975.