por Mauro Santayana
Um grupo de economistas, vinculados à Universidade de Campinas – em que se destaca a presença de Luis Gonzaga Beluzzo – acaba de lançar um manifesto em defesa do humanismo.
O exame da História nos mostra que os homens nunca foram plenamente felizes. Em todas as épocas houve pestes, fome, guerras e crimes bárbaros. A vida é uma experiência, ainda não bem sucedida. O paraíso não é um tempo passado de inocência, que nunca houve, mas uma esperança que, de uma forma ou de outra, move os humanistas. Há, no entanto, que reconhecer a evidência de que, hoje, mais do que em qualquer época, os homens vivem em pânico.
A sociedade está enferma, como aponta o manifesto de Campinas. Há intencionada banalização da violência. Quando alguém entra em uma escola e abate crianças – como ocorreu em Columbine, nos Estados Unidos, e no Realengo – há o imediato estupor, com a reação emocional da população. Os psiquiatras fazem o diagnóstico, sempre impreciso, dos assassinos, apontados como enfermos mentais. Sociólogos expõem as suas teses, que de nada servem, a não ser constatar o óbvio. As autoridades políticas, sempre pensando nas próximas eleições, declaram sua solidariedade às famílias e prometem medidas administrativas e políticas a fim de evitar novas desgraças.
Horas depois, no entanto, há outras emoções disponíveis, além daquelas que as novelas de televisão oferecem: jogos decisivos do campeonato de futebol, o sorteio da mega-sena acumulada, o romance de alguma celebridade.
Os jornais já não noticiam todos os assaltos seguidos de morte, a não ser aqueles que, pelo local em que ocorrem, e pelas vítimas que fazem, parecem ter interesse público, como o da jovem assassinada na madrugada de domingo em Higienópolis, em São Paulo. Segundo se noticiou, um dos assassinos, ao debochar da vítima, advertiu as novas vítimas prováveis: quem reagir, morre.
Os Estados têm atuado de forma irracional. Não basta a repressão severa contra os criminosos, organizados, ou não. É preciso identificar a causa real da demência da civilização. Não há regimes políticos, democráticos ou autoritários, que consigam proteger seus cidadãos. Quando os assassinos não são egressos destas escolas do crime em que se tornaram as instituições oficiais de recolhimento de pequenos delinqüentes, ou são jovens da classe média que matam mendigos ou matam colegas em trotes universitários, trata-se de fanáticos, como o racista norueguês que matou dezenas de pessoas inermes.
Desde a queda do muro de Berlim, como se a existência da URSS fosse a única forma de dissuasão da ganância desmedida, o poder financeiro se assenhoreou dos governos do mundo, a começar pelos Estados Unidos. Depois da estupidez de George Bush e seus auxiliares ensandecidos – como Cheney, Rumsfeld, Karl Rove, Richard Perle e Paul Wolfowitz -, a eleição de Barack Obama foi vista com grande esperança, mas, ainda que o primeiro presidente negro da grande nação quisesse, não lhe foi possível cumprir o que prometera.
Enquanto os bancos dominarem o mundo, não será possível diminuir a violência das ruas. A menos que as massas ocupem realmente as grandes cidades e dêem conseqüências eleitorais a essa ocupação, mudando radicalmente a legislação neoliberal e acabando com a ditadura do poder financeiro sobre o mundo. Se assim ocorrer, é provável que alguma paz nos seja dada.
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