Ora, o homem custa alguma coisa para a natureza? E, supondo
que possa custar, custa mais que um macaco ou que um elefante? Vou além: quais
são as matérias-primas da natureza? De que se compõem os seres que nascem? Os
três elementos que os formam não resultam da primitiva destruição de outros
corpos? Se todos fossem eternos, não se tornaria impossível à natureza a
criação de novos indivíduos? Se a eternidade dos seres é impossível à natureza,
sua destruição é por conseqüência uma de suas leis.
A natureza nada poderia criar se não se valesse dessas
massas de destruição que a morte lhe prepara: o que chamamos de fim da vida
animal não é um fim real, mas simples transmutação, que tem por base o perpétuo
movimento, essência verdadeira da matéria, que todos os filósofos modernos
consideram como uma de suas primeiras leis. A morte, segundo esses princípios
irrefutáveis, representa tão-somente uma transformação, uma passagem imperceptível
de uma existência a outra...
Argumento do libertino Dolmancé no discurso de A filosofia
na alcova
Marquês de Sade, A filosofia na alcova
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