A águia, senhorita, é, às vezes, obrigada a deixar a sétima região do ar para vir se abaixar sobre o cume do monte Olimpo, sobre os antigos Pinheiros do Caucásio, sobre o frio larício do Jura, sobre o branco píncaro do Taurus, e algumas vezes mesmo perto das pedreiras de Montmartre, Sabemos pela história (pois a história é uma coisa bela) que Catão, o grande Catão, cultivava seu campo com as próprias mãos, Cícero alinhava, ele mesmo, as árvores nas belas alamedas de Formies (não sei se também eram podadas), Diogenes dormia num tonel, Abraão fazia estátuas de argila, o ilustre autor de Télemaque fazia pequenos copos para Mme. Guyon, Piron deixava às vezes os sublimes pincéis de La Métromanie para beber vinho de Champagne e fazer a Ode à Priape. (...) E nos nossos dias, senhorita, nos nossos augustos dias, não vemos a célebre presidenta de Montreuil deixar Euclides e Bar^}eme para falar de óleo ou salada com seu cozinheiro? Eis o que vos prova, senhorita, que o homem fez muito, elevando-se acima de si mesmo, mas há instantes fatais no seu dia que, apesar disso, lhe recordam sua triste condição de animal, da qual sabeis que meu sistema (talvez por julgar segundo mim mesmo), que meu sistema, digo, não o afasta muito.
Carta do Marquês de Sade a Mlle. de Rousset, enviada de Vincennes em 17 de abril de 1782.
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