segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Trecho de um livro de Michel Onfray (1)

Trecho do livro “A arte de ter prazer – por um materialismo hedonista”, de Michel Onfray.

... Ele (Ludwig Feuerbach) é um dos primeiros a pensar o fim do cristianismo em relação ao início, possível, de uma antropologia imanente. Em primeiro lugar, trata-se de compreender a natureza arquitetônica da alienação na lógica religiosa: o que o homem atribui à divindade é aquilo de que ele se desfaz. Os homens só revestem os deuses com as qualidades que lhe cabem. Bastará colocar em evidência as engrenagens dessa retórica do despojamento para convidar os homens a se reencontrar, especialmente a reencontrar seus corpos.

Para comemorar devidamente a reconciliação do homem consigo mesmo, é preciso antes de mais nada acabar com os mundos remotos, os céus e supostos lugares de residência das idéias, das essências, das divindades. Esses espaços são míticos, sonhados e supostos. Não tem nenhuma existência, a não ser fantasística. Sem tergiversações sobre a natureza o real ou do verdadeiro, Feuerbach escreve: “É verdadeiro o que se manifesta aos sentidos”. Ou então: “A manifestação sensível é a própria realidade”. A morte de deus é menos importante do que a destruição do que durante tanto tempo o tornou possível. Feuerbach não deixa de praticar a política da exinanição e redobra o vigor conceitual contra o cristianismo, depois contra a religião, na medida em que ela supõe uma fratura no interior do homem, uma divisão entre o corpo e a alma, a carne e o espírito.

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Pág. 214.

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