quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Alípio Freire: Por que resistimos ao golpe de 64 e à ditadura civil-militar

Publicado em 28 de fevereiro de 2013 no VioMundo.

 
 
Tadeu Breda, da Rede Brasil Atual

São Paulo – O permanente processo de reconstrução da história brasileira contemporânea ganhará mais um tijolo no próximo sábado (2), quando estreia o documentário 1964: Um golpe contra o Brasil. Dirigido pelo jornalista, escritor e artista plástico Alípio Freire, o filme pretende lançar olhares militantes – alguns novos, outros nem tanto – sobre o contexto político, econômico, social e internacional que levou à conspiração cívico-militar contra o presidente João Goulart e aos 21 anos de ditadura que vieram depois.

Em aproximadamente 120 minutos, com testemunhos e muita pesquisa, Alípio Freire tentará dar conta de cinco anos da história brasileira que compreendem os antecedentes imediatos e as primeiras consequências do golpe: o filme começa em 1960, com a eleição do presidente Jânio Quadros, e vai até agosto de 1964, com a nomeação do general Castello Branco como chefe do governo.

Alípio levou cerca de um ano para filmar e montar essa narrativa. Produzido pelo Núcleo de Preservação da Memória Política, contou com o apoio da TVT e de uma verba de R$ 80 mil da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, liberada por uma emenda parlamentar do deputado Adriano Diogo (PT), que preside a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva na Assembleia Legislativa.

O diretor de 1964: Um golpe contra o Brasil atendeu à reportagem da RBA pelo telefone, enquanto realizava os últimos retoques no filme. Segundo Alípio, a principal motivação do documentário é explicar aos jovens brasileiros as origens do golpe a partir do olhar da geração de resistiu à ditadura.

“O golpe voltará à tona no ano que vem porque cumprirá 50 anos”, lembra. “É importante que prestemos informações sobre o que foi o golpe, qual eram os projetos em jogo, qual foi a participação dos Estados Unidos, dos industriais brasileiros, dos latifundiários, enfim, da direita brasileira articulada com os interesses internacionais. Esse assunto não costuma ser tratado no país.”
Na entrevista, Alípio Freire dá mais detalhes sobre o documentário, comenta os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade e revela sua esperança de que os criminosos da ditadura respondam pelo que fizeram.

Por que mais um documentário sobre o golpe militar?
Entendemos que as ações que até agora foram tomadas para elucidar os episódios que levaram ao golpe militar são fragmentadas, e a maioria das versões que conhecemos foi divulgada por fontes oficiais ou que ajudaram na articulação do golpe, como os veículos da grande mídia brasileira. Nosso olhar é um olhar de esquerda, de gente que resistiu ao golpe. Quem tem menos de 50 anos, ou seja, todos os que nasceram depois de 1964, poderá agora conhecer nosso olhar sobre essa história e entender porque resistimos ao golpe e ao regime que foi implantado logo depois.
Temos uma Comissão Nacional da Verdade funcionando, a Comissão da Anistia que já tem alguns anos de trabalho. Nesse contexto, o filme se torna ainda mais importante. Os que fomos perseguidos pela ditadura, e sobretudo os que foram assassinados e desaparecidos, vemos que a instalação dessas comissões oficiais como um grande e merecido gesto de solidariedade por todas as atrocidades que aconteceram. No entanto, é preciso que toda a população possa contar também as nossa versão e nossas informações dos fatos. Devem saber quem foram os personagens dessa história, pra que não seja enrolada e compre gato por lebre.
Quando você vê jovens querendo recriar a Arena, partido que deu ares de legalidade institucional à ditadura, isso é assustador. Se estão querendo refundá-lo, tenho certeza de que é por falta de informação. Por isso, precisamos contar. Porém, o que esses jovem vão fazer com essas informações, já não é mais nossa responsabilidade. Mas é preciso que possam ao menos refletir.

Quais as grandes qualidades do filme?
O documentário consegue esclarecer alguns pontos obscuros da nossa história, como por exemplo, quais eram os objetivos que levaram à renúncia do presidente Jânio Quadros e como se deu essa renúncia. Outro exemplo: por que João Goulart se retirou pra Montevidéu, no Uruguai? Não somos os primeiros a tentar esclarecer estes e outros episódios, mas essa é parte das nossas intenções com o filme e com o resgate da memória política.
Entrevistamos cerca de 20 pessoas, como Almino Affonso, que era ministro de Trabalho do Jango, a cientista política Maria Victoria Benevides, Aldo Arantes, presidente da União Nacional dos Estudantes em 1961, e João Pedro Stedile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Vocês trazem alguma grande novidade sobre a época?
Há algumas revelações que são novidade, por exemplo, com relação à estratégia dos aliados do presidente Jango; a participação direta da Casa Branca no golpe, além da CIA, do Departamento de Estado e do Departamento de Defesa; a retomada dos fundadores e financiadores do Ipes-Ibad; as relações com a Aliança para o Progresso, Peace Corps e outros programas de ajuda solidária de Washington para a América Latina e Brasil.

Como avalia o trabalho da Comissão Nacional da Verdade até agora?
A simples instalação da CNV é uma grande vitória de todos que vêm lutando e resistindo desde a instalação da ditadura civil-militar, em 1964, até agora. É a primeira vez que o Estado brasileiro institui um organismo para investigar os crimes da elite brasileira. O fato de ter dois anos de duração não quer dizer nada. Em outros países também foi assim, e os trabalhos foram prorrogados. Espero que a CNV cumpra seu papel.
Ela tem se movimentado bem nessa direção. Não tem o papel de punir, mas, uma vez que está líquida e certa a participação de determinadas pessoas nos crimes, você pode entrar na justiça e levá-las aos tribunais para que sejam denunciadas, processadas e, no caso de confirmação dos crimes, punidas nos termos da lei, em processos legais, públicos e com todo direito à defesa. Acho que avançamos bastante. Ainda não chegamos lá, mas chegamos bastante.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Comparação dos governos PSDB e PT

Este infografico foi publicado pelo jornal Valor que não podemos considerar como "de esquerda" e nem mesmo que seja favorável aos Governos trabalhistas do PT, mas como não é possível esconder os números da economia e da área social, até este representante do pig se rende, mas vamos aos dados:

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Os quarenta mandamentos do reacionário perfeito

Publicado no blog História & Política de Gustavo Moreira.



Cada um dos tópicos abaixo foi diretamente inspirado nas falas ou nas atitudes de pessoas de carne e osso.

1-Negue sistematicamente a existência de qualquer conflito de classe, gênero, etnia ou origem regional ao seu redor, mesmo que o problema seja evidente até aos olhos do turista mais desatento. Afinal, sempre nos foi ensinado que a sociedade é um todo harmônico.
2-Não sendo possível negar o conflito, pela sua extensão, tente convencer seu interlocutor de que ele é limitado, reduzido a alguns focos ou induzido por estrangeiros perversos, mas que logo tudo voltará à tranquilidade costumeira.

3-Sendo impossível negar que o conflito é vasto e presente em quase toda parte, tome o partido dos mais poderosos. Afinal, eles representam a ordem, que deve ser mantida a qualquer custo.
4- Manifeste sua contrariedade diante de qualquer estatística que aponte para uma tendência de aumento da massa salarial. É inadmissível que os abnegados empreendedores sejam constrangidos a margens de lucro menores.

5-Demonstre contrariedade ainda maior quando notar que filhos de operários, camelôs e empregadas domésticas estão frequentando universidades. Prevalecendo esta aberração, que vai limpar o vaso sanitário para seu filho daqui a vinte anos?
6-Repita mil vezes por dia, para si mesmo e para os outros, que esquerdismo é doença, ainda que faça parte de uma classe média de orçamento curto, mas que, em estranho fenômeno psicológico, se enxerga como parte da melhor aristocracia do planeta.

7-Atribua a culpa pelos altos índices de criminalidade aos migrantes vindos de regiões pobres e imigrantes de países miseráveis. Estas criaturas não conseguem nem reconhecer a generosidade da sociedade que os acolhe.
8-Associe, sempre que possível, o uso de drogas a universitários transgressores e militantes de esquerda, mesmo sabendo que o pó mais puro costuma ser encontrado nas festas da “boa sociedade”. É necessário ampliar ou pelo menos sustentar o nível de reacionarismo da população em geral.

9- Tente revestir seu conservadorismo com uma face humanitária, reivindicando o direito à vida de todos os fetos, ainda que, na prática, vá pagar um aborto caso sua filha fique grávida de um indesejável, e seja favorável ao uso indiscriminado de cassetete e spray de pimenta contra os filhos de indesejáveis já crescidos.
10- Assuma o partido, em qualquer querela, daquele que for mais valorizado socialmente. Não é prudente que os “de baixo” testemunhem quebras de hierarquia, nem nos casos de flagrante injustiça.

11- Tente justificar, em qualquer ocasião, os ataques militares da OTAN contra países da Ásia, África ou da América Latina, mesmo que estes não representem a menor ameaça concreta para os agressores. Pondere que não é fácil carregar o fardo da civilização.
12- Mantenha assinaturas de pelo menos um jornal e uma revista de linha editorial bem reacionária, para usá-las como argumento de autoridade. Quando suas afirmativas forem refutadas, retruque de imediato com a fórmula “eu sei de tudo porque li o …”.

13-Nunca se esqueça: se um político socialista ou comunista cometer crimes comuns, isto é da essência do esquerdismo; se os crimes forem cometidos por um político de direita, ele é apenas um indivíduo safado que não merece mais o seu voto.
14- Vista-se somente com roupas de grifes caríssimas, não importando o quanto vá se endividar. Sobretudo jamais seja visto sem gravata por pessoas das classes C, D e E.

15- Nunca perca a oportunidade de discursar a favor da pena de morte quando o jornal televisivo noticiar o assassinato de um pequeno burguês por assaltante ou traficante de favela; se, ao contrário, surgir a imagem de algum rico que passou de carro a 200 km/h por cima de pobres, mude de canal, procurando um filme de entretenimento.
16- Quando ouvir narrativas sobre ações violentas de neonazistas e outros militantes de extrema-direita, minimize a questão. Afinal, eles podem ser malucos, mas contrabalançam a ação da esquerda.

17- Reserve pelo menos uma hora, durante as festas de aniversário de seus filhos, para aquela roda em que alguns contam piadas sobre padeiros portugueses burros, negros primitivos, judeus e árabes sovinas, gays escrachados e índios canibais. É necessário, para reforçar a coesão da comunidade burguesa “cristã-velha”!
18- Quando forçado a conversar com pobres, tente parecer um grande doutor, empregando seguidamente expressões estrangeiras; se um subalterno for inconveniente ou falar demais, dispare sem hesitar: “Fermez la bouche!” .

19- Seja sócio de um clube tradicional, ainda que falido, e se possível ocupe uma de suas diretorias, mesmo que totalmente irrelevante. Manifeste-se sempre contra a entrada no quadro social de emergentes sem diploma e outros tipos sem classe.
20- Jamais ande de trem ou de ônibus. É a suprema degradação, comparável somente a ser açougueiro na sociedade absolutista.

21- Obrigue todo empregado doméstico que venha a cair sob suas ordens a comprar uniforme e usá-lo diariamente, impecavelmente lavado e passado. Afinal, para que serve o salário mínimo?
22-Jamais escute música baiana de qualquer vertente, samba, forró ou cantores sertanejos. Uma vez flagrado, sua reputação de homem civilizado estaria arruinada.

23-Pareça o mais alinhado possível com o liberalismo do século XXI. Tendo preguiça de se dedicar a textos complexos, leia pelo menos “Não somos racistas”, de Ali Kamel, e o “Manual do perfeito idiota latino-americano”. Passará como intelectual para pelo menos 90% da juventude de direita.
24- Morra virgem, mas nunca apresente como esposa, noiva ou namorada uma mulher que não caiba no estereótipo da burguesa cosmopolita, porém comportada.

25- Faça eco aos discursos dos octogenários conservadores que constantemente repetem a fórmula “no meu tempo não era assim”, mesmo que saiba sobre inúmeras falcatruas e atrocidades “do tempo deles”. Quanto mais perto do Império e da República Velha, mais longe da contaminação esquerdista!
26- Passe sempre adiante, para parentes, amigos e conhecidos, notícias forjadas na Internet, no estilo “Todas as mulheres de uma cidade do Ceará se recusaram a trabalhar numa fábrica de sapatos, porque já recebiam o bolsa-família”. Não importa se é impossível que qualquer pessoa com mais de quatro neurônios ativos acredite que uma cidade inteira tenha recusado um salário de pelo menos seiscentos reais por achar que vive bem com um auxílio de cento e cinquenta.

27- Repasse, igualmente, juízos de valor negativos sobre personalidades de esquerda, na linha “Michael Moore é mentiroso”, “Chico Buarque é um comunista hipócrita que vive no luxo”, “Dilma foi terrorista”, etc. É preciso dar continuidade à teatral associação entre reacionarismo e moralidade.
28-Diante de qualquer texto ou discurso de esquerda, classifique-o imediatamente como doutrinação barata ou lavagem cerebral. Não importando sua eventual ignorância sobre o tema, é preciso fechar todos os espaços à conspiração gramsciana mundial.

29- Sustente a surrada versão de que “apesar dos erros, os milicos salvaram o Brasil do comunismo em 1964”. Desconverse mais uma vez se alguém perguntar como se chegaria ao comunismo através da provável eleição de Juscelino Kubitschek em 1965.
30- Deprecie ao máximo mexicanos, chilenos, peruanos, paraguaios, bolivianos, colombianos e demais hispânicos como caboclos de cultura atrasada. Abra exceção para argentinos ricos filhos de pais europeus, desde que estes se abstenham de chamá-lo de macaquito.

31- Defenda o caráter sagrado da propriedade rural. Quando alguém recordar que as terras registradas nos cartórios do estado do Pará equivalem a quatro Parás, procure ao menos convencê-lo de que é uma situação atípica.
32- Afirme com veemência que todo posseiro, índio ou quilombola em busca de regularização de terras é vagabundo, mesmo que seus antepassados estejam documentados no local há duzentos anos. Por outro lado, todo latifundiário rico sempre será um proprietário respeitável, ainda que tenha cercado sua fazenda à bala há menos de vinte.

33- Denuncie nas redes sociais os ambientalistas que tentam embargar a construção de fábricas de artefatos de cimento em bairros superpopulosos e de depósitos de gás ao lado de estádios de futebol. Esses idiotas não sabem que nada é mais importante do que o crescimento do PIB?
34- Rejeite toda queixa que ouvir sobre trabalho escravo. É tirania impedir que alguém trabalhe em troca de água, caldo de feijão, laranja mofada e colchão de jornal, se estiver disposto a isto. Deixem a vida social seguir seu curso espontâneo!

35- Quando alguém protestar contra o assassinato de duzentos gays no ano Y, responda que outras quarenta mil pessoas morreram violentamente naquela temporada. Finja que é limítrofe e não entendeu que a cifra se limita aos gays mortos em decorrência desta condição e não aos que tombaram em latrocínios, brigas entre torcidas e disputas armadas por vagas de garagem.
36- Acuse todo movimento constituído contra determinado tipo de opressão de querer promover a opressão com sinal contrário. As feministas, por exemplo, pretendem castrar os machos e colocar-lhes avental para lavar a louça e cuidar de poodles.

37- Enalteça “esportes e diversões” que favorecem o gosto pelo sangue, como arremesso de anões, rinhas de galo, pegas, caçadas em áreas de preservação ambiental, touradas, farras do boi e congêneres. Como já dizia seu patrono oculto Benito Mussolini, “o espírito fascista é emoção, não intelecto”.
38-Procure enxertar referências bíblicas nas suas falas sobre política. Ao defender um oligarca truculento, arremate a obra dizendo algo como “Cristo também jantou na casa do rico Zaqueu”. Tente dar a impressão de que qualquer um que venha a contestá-lo despreza pessoas religiosas.

39-Apresente a todas as crianças que tiver ao seu alcance, antes dos dez anos, o repertório integral de Sylvester Stallone e similares, nos quais o árabe é sempre terrorista, o vietnamita um comunista fanático que jamais tira a farda e o hispano-americano batedor de carteira ou traficante. Tendo a chance, compre também Zulu, para a garotada aprender desde cedo que africanos são selvagens que correm em torno da fogueira sacudindo lanças de madeira.
40- Não permita que a política externa dos Estados Unidos seja criticada impunemente. Nunca se sabe quando o homem de bem precisará de um poder maior e talvez irresistível para defendê-lo do zé povão.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Governo federal rompe compromisso com a sociedade na área de comunicação


Nota pública do FNDC, via e-mail
A declaração do secretário-executivo do Ministério das Comunicações, no último dia 20, de que este governo não vai tratar da reforma do marco regulatório das comunicações, explicita de forma definitiva uma posição que já vinha sendo expressa pelo governo federal, seja nas entrelinhas, seja pelo silêncio diante do tema.

A justificativa utilizada – a de que não haveria tempo suficiente para amadurecer o debate em ano pré-eleitoral – é patética. Apesar dos insistentes esforços da sociedade civil por construir diálogos e formas de participação, o governo Dilma e o governo do ex-presidente Lula optaram deliberadamente por não encaminhar um projeto efetivo de atualização democratizante do marco regulatório.

Mas o atual governo foi ainda mais omisso ao sequer considerar a proposta deixada no final do governo do seu antecessor e por não encaminhar quaisquer deliberações aprovadas na I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em 2009. O que fica claro é a ausência de vontade política e visão estratégica sobre a relevância do tema para o avanço de um projeto de desenvolvimento nacional e a consolidação da democracia brasileira.

A opção do governo significa, na prática, o alinhamento aos setores mais conservadores e o apoio à manutenção do status quo da comunicação, nada plural, nada diverso e nada democrático. Enquanto países com marcos regulatórios consistentes discutem como atualizá-los frente ao cenário da convergência e países latino-americanos estabelecem novas leis para o setor, o Brasil opta por ficar com a sua, de 1962, ultrapassada e em total desrespeito à Constituição, para proteger os interesses comerciais das grandes empresas.

Ao mesmo tempo em que descumpre o compromisso reiterado de abrir um debate público sobre o tema, o governo federal mantém iniciativas tomadas em estreito diálogo com o setor empresarial, acomodando interesses do mercado e deixando de lado o interesse público.

No setor de telecomunicações, na mesma data, foi anunciado um pacote de isenção fiscal de 60 bilhões para as empresas de Telecom para o novo Plano Nacional de Banda Larga em sintonia com as demandas das empresas, desmontando a importante iniciativa do governo anterior de recuperar a Telebrás, e encerrando o único espaço de participação da sociedade no debate desta política – o Fórum Brasil Conectado. Somando-se ao pacote anunciado de benesses fiscais, o governo declara publicamente a necessidade de rever o texto do Marco Civil da Internet que trata da neutralidade de rede, numa postura totalmente subserviente aos interesses econômicos.

Na radiodifusão, faz vistas grossas para arrendamentos de rádio e TVs, mantém punições pífias para violações graves que marcam o setor, conduz a portas fechadas a discussão sobre o apagão analógico da televisão, enquanto conduz de forma tímida e errática a discussão sobre o rádio digital em nosso país. Segue tratando as rádios comunitárias de forma discriminatória, sem encaminhar nenhuma das modificações que lhes permitiriam operar em condições isonômicas com o setor comercial.

Diante desta conjuntura política e do anúncio de que o governo federal não vai dar sequência ao debate de um novo marco regulatório das comunicações, ignorando as resoluções aprovadas na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, manifestamos nossa indignação, ao mesmo tempo em que reiteramos o nosso compromisso com este debate fundamental para o avanço da democracia.

De nossa parte, seguiremos lutando. A sociedade brasileira reforçará sua mobilização e sua unidade para construir um Projeto de Lei de Iniciativa Popular para um novo marco regulatório das comunicações.

Coordenação executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC:

Associação das Rádios Públicas do Brasil – Arpub

Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária – Abraço

Associação Nacional das Entidades de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões – Aneate

Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé

Conselho Federal de Psicologia – CFP

Central Única dos Trabalhadores – CUT

Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações – FITTEL

Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão – Fitert

Intervozes – – Coletivo Brasil de Comunicação Social

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

José Dirceu: O presidenciável mineiro esquece que eles extinguiram a CPMF

Publicado em 21 de fevereiro de 2013 no Blog do Zé.

Ao falar da tribuna do Senado, ontem, em saúde e educação o senador Aécio Neves (PSDB-MG) fez autopropaganda enganosa. Os tucanos foram contra a redução da conta de energia, o Bolsa Família, o ProUni, a política de cotas raciais e sociais no ensino superior e contra a expansão das universidades. Esquecem de propósito - eles e o senador Aécio principalmente - o piso nacional dos professores (que seus governos e o DEM contestaram no STF).

Esquecem, também, o Fundo para o Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB); a extraordinária criação do PRONATEC; a construção de quase 250 escolas técnicas; a expansão das matrículas no ensino superior; e a criação de novas universidades - as existentes foram sucateadas e abandonadas na era FHC.

Agora rejeitam e não acreditam nos programas de saúde do governo; nos de construção de creches; de unidades básicas de saúde (UBS); na farmácia popular; no SAMU - Serviço de Atendimento Médico de Urgência; nos programas de defesa da saúde da mulher; na expansão, como nunca, do programa médico da família; e na consolidação dos programas de combate à AIDS e da indústria de genéricos.

Justo eles, que tiraram da saúde os recursos da CPMF (R$ 40 bi no ano em que a extinguiram, 2007) na promoção de uma fraude que só favoreceu a sonegação fiscal e a uma minoria da população, a de alta renda que pagava a contribuição. Tiraram bilhões da saúde a partir daquele ano sem indicar uma nova fonte de recursos.

Aécio governou por leis delegadas, um sistema da ditadura


Pela voz do senador mineiro, os tucanos acusam o governo de mau exemplo, estímulo à intolerância e ao autoritarismo, de tornar o Congresso homologador de medidas provisórias (MPs), de limitarmos a criação de CPIs... Por falar em MPs, Aécio Neves governou Minas oito anos com leis delegadas (como na ditadura), enquanto em nosso governo as MPs foram regulamentadas segundo proposta da oposição.

Já quanto à liberdade de imprensa, disso o senador e ex-governador de Minas entende. Tanto que lá nas Minas Gerais a imprensa toda o apoia com a farta publicidade oficial que a alimenta. Realmente o cinismo do tucano falante não tem limites! Já sobre ódio e intolerância, dos quais ele também falou, somos as vítimas e os tucanos e sua mídia, os carrascos.

Basta ver como tratam o PT e nosso governos. A indignação e os protestos do parlamentar mineiro, jogo de cena, não escondem a realidade de que em Minas e em São Paulo as Assembleias Legislativas são dominadas pelos governadores tucanos e o rolo compressor palaciano garante suas maiorias em legislativos que não fiscalizam e nem têm CPIs.

O momento em que o senador mineiro se superou


E o senador das Minas Gerais conclui sua fala com a acusação de que o governo defende maus feitos e tem complacência com os desvios éticos. Aqui Aécio decididamente se supera. Eu não vi nenhum combate à corrupção nos oito anos em que ele governou Minas, e nem nos oito anos de FHC.

Foi no governo Lula e a partir daí que o Brasil construiu instituições para fiscalização, transparência e controle do poder público. Aliás, na era tucana o procurador-geral da República era chamado de engavetador-geral e a corrupção não era combatida. Era simplesmente negada. Isso sem falar que os tucanos continuam a se opor à reforma política...

Leiam, ainda, a nota que publico acima Ao alinhar "fracassos" petistas, Aécio se mira é nos erros do PSDB e o post abaixo Uma grande bobagem.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

E, a Marvada Pinga, Saudades de Matão e outros sucessos, está fazendo anos e nós...

... só podemos homenagear de maneira efusiva a grande musa da verdadeira música caipira brasileira, a grande e imprescindivel brasileira Inezita Barroso. Nosso abraço, nossos beijos e nossos Parabéns!

O Limites da Pátria

Publicado em 19 de fevereiro de 2013 no JB Online.

por Mauro Santayana

É difícil saber se a Sra. Marina Silva é uma pessoa ingênua e de boas intenções, ou se optou, conscientemente, por defender os interesses das grandes potências que, sob o comando de Washington, exercem o solerte condomínio econômico do mundo e pretendem o absoluto império político. Há uma terceira hipótese que, com delicadeza, devemos descartar: desmesurada ambição de poder, sem as condições concretas para obtê-lo e exercê-lo.

Os admiradores lembram sempre sua origem modesta, o que não quer dizer tudo, mas não podem, com a mesma convicção, dizer que ela tenha mantido, ao longo da carreira, o que os marxistas chamam “consciência de classe”. Suas alianças são estranhas a esse sentimento. Ela se tornou uma figura homenageada pelos grandes do mundo, mas, sobretudo, do eixo Washington-Londres. Se ela mantivesse a consciência de classe, desconfiaria desses mimos. Para dizer a verdade, nem mesmo seria necessária a consciência de classe: bastaria a consciência de pátria.

A Sra. Silva, como alguns outros brasileiros que se pretendem na esquerda, é uma internacionalista. O meio ambiente, que querem preservar tais verdes e assimilados, não é o do Brasil para os brasileiros, mas é o do Brasil para o mundo. Quando a Família Real Inglesa e os círculos oficiais e financeiros norte-americanos cercam a menina pobre dos seringais de homenagens, usam de uma astúcia velha dos colonialistas, e fazem lembrar os franceses na aliança com a Confederação dos Tamoios, e os holandeses em suas relações com Calabar.

Os tempos mudam, os interesses de conquista e domínio permanecem, com sua própria dinâmica e solércia. Os limites intransponíveis da razão política são os da pátria. Todos os devaneios são admissíveis, menos os que comprometam a soberania nacional. Não são apenas os estrangeiros que adoçam os sonhos da defensora da natureza. São também brasileiros ricos e conservadores que, é claro, procuram dividir a cidadania, para que fiéis servidores políticos mantenham sua posição no Parlamento e nos outros poderes. Há informações de que grande acionista de banco poderoso se encarregou das despesas do espetáculo de lançamento do partido de dona Marina, que não quer ser chamado de partido. E não se esqueça de que quem sempre a financiou é um industrial enriquecido com a biodiversidade amazônica.

Não há coincidências em política. Os mentores da Sra. Silva querem que seu movimento, como ela anunciou, não seja de direita, nem de esquerda, e muito menos de centro – que é o equilíbrio pragmático entre as duas pontas do espectro. É interessante a ilogicidade da proposta. Como é possível dissociar a ideologia da política e, ainda mais, a ideologia do viver cotidiano? Esquerda e Direita existem na vida dos homens desde as primeiras tribos nômades, e são facilmente identificáveis na postura solidária de alguns e no egoísmo de outros. Sempre que pensamos em igualdade, somos, menos ou mais, de esquerda; sempre que pensamos na superioridade, de qualquer natureza, de uns sobre os outros, estamos na direita. Mais ainda: idéia é a imagem que construímos previamente na consciência, seja a de um objeto, seja a de uma conduta social e política.

Não é possível viver sem um lado. A doutrina da mal chamada Rede (apropriação apressada e ingênua do mundo da internet, que é um meio neutro) oferece essa aporia: é um partido sem partido, uma realidade sem geometria, uma idéia sem idéia.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Paulo Metri: O novo ciclo do João Teimoso neoliberal

publicado em 15 de fevereiro de 2013 no blog VioMundo.
 


por Paulo Metri*, em seu blog, via e-mail

O brinquedo de criança João Teimoso é um cilindro de plástico cheio de ar, com a figura de um boneco desenhada e uma base bem pesada e arredondada. Ele tem a característica de nunca ficar deitado, por mais que a criança o soque ou chute. Ele balança em todas as direções, mas sempre retorna à posição vertical, não sendo nunca nocauteado.

Os legados da minha geração são a abertura política e a recente inclusão social. Derrubou-se a ditadura militar, contudo, a ditadura midiática se fortificou, no mesmo período. Chega a ser hilário, mas muitas pessoas pensam que, hoje, se está em uma democracia plena.

Em outro viés de análise, conseguiu-se substancial melhoria na distribuição de renda na última década, mas, em paralelo, se criou um enorme passivo de riquezas, composto das remessas futuras de lucros e recursos naturais das empresas estrangeiras aqui instaladas.

Quem irá pagar esta fatura são as próximas gerações. A troca de benefícios atuais pouco expressivos por razoáveis perdas para as gerações futuras é lastimável. Tento, a seguir, explicar esta afirmação.

Hoje, o neoliberalismo está voltando com força total, depois de quase ter levado o mundo ocidental a uma convulsão em 2008. Desde então, os criminosos se esconderam e os governos, principalmente dos desenvolvidos, os protegeram.

Agora, os habitantes dos em desenvolvimento começam a ouvir de novo a cantilena neoliberal. Os devotos desta seita nunca param de insistir, parecendo um João Teimoso. Contudo, para eles retornarem, contam com a alienação do povo, tão bem construída por sua própria mídia.

O devoto presidente Fernando Henrique Cardoso publicou em 3/2/13 em jornalões o artigo “Pessoas e histórias”, onde explicita seu pensamento. Lá, ele diz, textualmente: “Quem ainda pensa em ‘controle coletivo’ dos meios de produção? Só mesmo os nacional-desenvolvimentistas que amam o capitalismo dirigido e identificam o Estado com o coletivo, mas nem por isso são de esquerda”.

Tomo só esta afirmação de FHC, dentre outras tantas contestáveis do artigo, para efeito didático. No parágrafo acima, ele lança a tese que uma estatal, por exemplo, não seria do coletivo. Se não existir controle social sobre a estatal, ele está certo, pois ela poderá ser dominada por grupos de interesse, quer sejam econômicos ou corporativos.

No entanto, ele não sugere este controle social sobre as estatais e, como sabemos, propõe a privatização delas. Mas, se forem privatizadas sem a existência de verdadeiras agências reguladoras, que visem proteger a sociedade, estará sendo implantado um sistema que também não atende ao coletivo. Então, um problema importante é não existir controle social sobre as atividades econômicas.

Estranhamente, FHC se cala sobre o cooptação das agências por grupos econômicos. Note-se que a cultura da usurpação de bem público pelo setor privado é tão arraigada na nossa sociedade que, certamente, as agências reguladoras não permanecem imunes a estes predadores sociais.

A providência realmente eficiente, que é conscientizar a população para exigir que estatais e agências sejam suas, é sempre esquecida.

Além disso, é óbvia a importância de estatais em setores estratégicos de países de desenvolvimento tardio. Finalizando as referências a FHC, divirjo quando ele acha que o “capitalismo dirigido” é ruim.

Implícito está que o certo, para ele, seria o “laissez-faire”, que fez o ocidente entrar na crise de 1929 e foi repetido nos anos que antecederam 2008.

Neste momento, o João Teimoso neoliberal está se levantando com ataques maciços à Petrobras.

Declara na mídia, controlada por ele: “o lucro da Petrobras foi corroído por uso político da estatal”, “o valor de mercado da empresa está baixo hoje”, “a empresa não terá capacidade para bancar os 30% de cada consórcio do Pré-sal”, “erradamente, ela não investiu em refinarias”, “a ineficiência da gestão da era Lula está se refletindo agora, pois a produção foi 2% menor que a do ano passado” etc.

Haja paciência para retrucar tanta imprecisão e deturpação lançada por metralhadora giratória.

Entretanto, em respeito àqueles que a falta de escrúpulos da mídia do capital poderá iludir, terei paciência. Tento explicar, a seguir, o que se passa na verdade.

As empresas estrangeiras tiveram um duro revés depois que o Pré-sal foi descoberto, pois 41 blocos desta área foram excluídos da nona rodada, um novo marco regulatório foi elaborado, retirando boa parte do superlucro petrolífero delas e direcionando-o para a sociedade, entre outros reveses. Agora, elas estão indo a forra, tal qual um João Teimoso.

Colocaram seus testas-de-ferro em diversos órgãos, a ponto de existirem alguns que, mesmo fazendo parte do governo brasileiro, atuam contra nossa sociedade. Divulgam nas televisões, rádios e jornais que leilões trazem dinheiro (bônus) para a sociedade, o que é verdade, pois traz algum dinheiro, mas, infinitamente inferior ao que será levado no futuro para o exterior, sem deixar grande usufruto para os nativos.

Divulgam que rodadas de leilões correspondem a uma melhoria, o que não é verdade, pois mais corresponde a uma involução. Elas nos obrigam a produzir petróleo muito acima do que precisamos, com valor monetário e estratégico imenso, que só é usufruído pelos donos do campo petrolífero, quando a lei 9.478/97 é usada, e a sociedade ganha uma parcela muito pequena, que são os royalties.

Depois de tanta pressão, a presidente Dilma liberou duas rodadas de leilões de blocos, neste ano, que, no fundo, valem por três rodadas porque a 11ª rodada terá os blocos inicialmente previstos para ela e os da não realizada oitava rodada.

Não sei o que a presidente Dilma ouviu, mas foi uma péssima decisão, porque, primeiramente, a Petrobras já tem o petróleo necessário para os próximos 40 anos de abastecimento do país e, em segundo lugar, a Petrobras não irá ganhar muitos blocos e eles serão entregues para empresas estrangeiras, aumentando o passivo de riquezas, que as futuras gerações de brasileiros terão de honrar.

Cada concessão assinada sob a égide da lei 9.478, como serão todas as concessões desta 11ª rodada, é leonina em que o leão é o concessionário e a sociedade é quem fica na frente do leão. Em outras palavras, não há razão alguma que justifique ter pressa em fazer leilões.

Vi recentemente um documentário antigo sobre a vida e a obra de Leonel Brizola em um destes bons canais atípicos (TVE, TV Senado, TV Câmara etc.). No programa, a presidente Dilma, em época em que ainda não era presidente, enalteceu as qualidades do político e líder Brizola. Foi então que senti o grande apreço que ela nutre pelo líder.

Portanto, peço permissão à presidente para sugerir que ouça um último conselho do grande brasileiro Brizola, que tinha o nacionalismo como uma das suas mais firmes características.

No seu discurso na última homenagem que Brizola recebeu da Assembleia gaúcha, pouco antes de morrer, ele diz claramente: “Sou contra as rodadas de leilões de entrega do petróleo nacional”.

A estratégia das empresas estrangeiras foi, primeiramente, concentrar muitos leilões de blocos em um período curto de tempo (2013), para a Petrobras, estando financeiramente asfixiada, não poder participar de todos os leilões.

Para os blocos bem promissores e sem a presença da Petrobras como concorrente, as empresas irão combinar quem sairá vencedora e com qual bônus ofertado. E não será possível o governo brasileiro descobrir em que blocos não houve concorrência, mesmo com todo empenho possível. O total de bônus, que já era pouco atrativo, será menor ainda.

No caso tão divulgado pela imprensa da Petrobras segurar os aumentos necessários da gasolina e do diesel para satisfazer a interesses do governo, primeiramente, este assunto veio a calhar porque asfixiou ainda mais a empresa.

Depois, fica a pergunta: por que a Petrobras não aproveitou a situação para importar somente a gasolina e o diesel que sua distribuidora iria precisar? Pelo desmonte que foi feito com o término do monopólio e a introdução da lei 9.478, a Petrobras passou a não ser mais responsável pelo abastecimento do país.

Também deixou de ter o monopólio sobre a importação de derivados. Então, por que a Petrobras teve que importar derivados e os entregar às distribuidoras privadas, a maioria delas estrangeira, por preço abaixo do que foi comprado no exterior? Seria para ajudá-las a terem boa rentabilidade?

Quanto ao preço de mercado da empresa, entra muito, nesta avaliação, a especulação, sobre o que não opino.

Não se está falando sobre o preço da empresa baseado em seus ativos, sua capacidade de gerar lucros, sua capacidade tecnológica etc. Muito mais poderia ser dito, mas certamente estarei deixando o texto mais longo.

*conselheiro do Clube de Engenharia

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Bento XVI, o Ocidente e o Conservadorismo

Este blog, apesar de ateu, publica dois artigos de extrema importância par o entendimento de uma renúncia que apesar de dizer respeito a uma religião afeta politicamente praticamente todos os países do mundo, infelizmente.
O primeiro artigo é do grande jornalista Mauro Santayana e o segundo de Saul Leblon em seu Blog das Frases no portal de esquerda Carta Maior e para ilustrar e não deixar que nossos leitores esqueçam, uma foto das práticas da denominada "santa inquisição", do qual o sr. Ratzinger foi um dos seus mentores na atualidade.


A igreja e a reinvenção do Ocidente

por Mauro Santayana no JB Online

Ao surpreender o mundo — menos alguns íntimos de sua fadiga — com a renúncia ao papado, Bento XVI revela a grande crise por que passa a Igreja Católica. Quando Gregório XII renunciou, em 1415, seu gesto unificou a instituição, então dividida sob três pontífices desde 1378. Ângelo Correr percebeu, com acuidade, que ele assim serviria melhor à sua própria posteridade ao servir à unidade da Igreja e abandonar o trono papal.

Ele não era O Papa, mas a terceira parte de um poder que, dividido, enfraquecia-se cada vez mais diante do mundo e, o que é pior, diante da História. Os dois anos de vida que lhe sobraram — morreu em 1417 — lhe devem ter assegurado esse consolo. Ele tinha 90 anos ao renunciar — uma idade difícil de atingir naquela véspera do Renascimento — mas deu a seu gesto o claro caráter político, ao negociá-lo com o adversário mais forte e influir na escolha — unânime, do sucessor, Martinho V — da poderosa família Colonna. Não alegou cansaço mas, sim, responsabilidade política.


Mais longa do que o Grande Cisma dos séculos 14 e 15, que durou quase 40 anos, é a já duradoura crise do Ocidente, de que a Igreja foi fiadora e principal organização política, desde Constantino e Ambrósio. Depois da morte de ambos, a Igreja se proclamou herdeira do Império Romano, com base em um documento apócrifo, a Constitutum Constantini, segundo o qual Constantino legava ao papa Silvestre I — e, assim, à Igreja — todo o poder político e todos os bens do Império. O documento, forjado no século 8, foi desmascarado por Lourenço Valla, no século 15.

Um dos mais destacados latinistas e gramáticos da História, Valla provou que o latim usado para redigir o documento não existia no século 4. A inteligência lógica de Ambrósio arquitetou a construção política da Igreja, conduzida na sábia combinação entre a concentração da autoridade espiritual no Vaticano, exercida mediante os bispos, e a distribuição do poder temporal entre os reis e os senhores feudais, sem esquecer o domínio direto sobre os estados pontifícios, que garantiam a incolumidade dos papas.

Dessa forma foi possível, em esforço de séculos, domar a anarquia, conter e assimilar os bárbaros e dar estrutura política e social à Idade Média, com a consolidação da injustiça de sempre contra os pobres e os pensadores que os defendiam, quase sempre levados às inquisições e à fogueira, como ocorreu a Giordano Bruno, no auge do Renascimento, em 1600.

Ambrósio, nobre burocrata do Império, pagão até ser eleito bispo de Milão, não agiu como teólogo, que não era, mas, sim, como um dos mais hábeis estrategistas políticos da História. Coube-lhe salvar os pontos basilares da ideia do Ocidente.

A Igreja sempre fez alianças com o poder temporal, algumas piores do que as outras, a fim de evitar a prevalência do verdadeiro cristianismo sobre seus interesses políticos no mundo. É assim que o Vaticano de nossos dias — depois de tolerância criminosa com Hitler, sob Pio XII — mantém o acordo firmado entre Reagan e Wojtyla, há mais de trinta anos, com o objetivo, atingido, de destruir a União Soviética e combater o socialismo. É preciso lembrar que, para o êxito da conspiração, contribuíram o traidor Gorbatchev, hoje garoto propaganda dos artigos de luxo da Louis Vuitton, e as operações do Banco Ambrosiano (valha a coincidência), para financiar o Solidarinost, o sindicato de direita da Polônia, liderado por Lech Walesa.

Mesmo que não a desejasse, Ratzinger seria compelido à renúncia, pelos mais eminentes membros da Cúria Romana, que se preocupam com a sanidade mental do pontífice, cujo engajamento com os setores mais conservadores da Igreja tem comprometido o seu arbítrio. Acrescente-se o movimento, subterrâneo, mas vigoroso, da Igreja Latina — e mais perceptível no episcopado italiano — de encerrar o período de papas menos universais e empenhados em sua razão nacionalista, como o polonês e o alemão. Isso não significa que o clero italiano recupere a Santa Sé, mas anuncia uma campanha intensa durante o conclave em favor de um candidato com as chances de Ângelo Scola, atual arcebispo de Milão, e advogado de diálogo franco e aberto com o islã.


Em seu pronunciamento de renúncia, o papa associou seu gesto à crise do pensamento ocidental, no tempo de alucinantes mudanças: “... no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor, quer do corpo quer do espírito; vigor este que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado”.

Como anotou Gregório de Tours, no enigmático século 6, o mundo de vez em quando envelhece, encasulado na dúvida, e reclama a metamorfose. A Igreja Cristã (não só a Católica) e o Ocidente, xifópagos há 16 séculos, necessitam reinventar-se. Talvez a astúcia hoje dependa de pensadores abertos, como o arcebispo de Milão, sucessor de Ambrósio no episcopado. Talvez seja o tempo de se convocar não um Concílio da Igreja Católica mas de organizar-se um Concílio Ecumênico Universal, para salvar a ideia de um Deus comum, reunindo todas as crenças em nome da vida e da paz entre os homens de boa vontade.

Bento XVI: crise e a exaustão conservadora

publicado no Blog das Frases por Saul Leblon

Dinheiro, poder e sabotagens. Corrupção, espionagem, escândalos sexuais.

A presença ostensiva desses ingredientes de filme B no noticiário do Vaticano ganhou notável regularidade nos últimos tempos.

A frequência e a intensidade anunciavam algo nem sempre inteligível ao mundo exterior: o acirramento da disputa sucessória de Bento XVI nos bastidores da Santa Sé.

Desta vez, mais que nunca, a fumaça que anunciará o 'habemus papam' refletirá o desfecho de uma fritura política de vida ou morte entre grupos radicais de direita na alta burocracia católica.

Mais que as razões de saúde, existiriam razões de Estado que teriam levado Bento XVI a anunciar a renúncia de seu papado, nesta 2ª feira.

A verdade é que a direita formada pelos grupos 'Opus Dei' (de forte presença em fileiras do tucanato paulista), 'Legionários' e 'Comunhão e Libertação' (este último ligado ao berlusconismo) já havia precipitado fim do seu papado nos bastidores do Vaticano.

Sua desistência oficializa a entrega de um comando de que já não dispunha.

Devorado pelos grupos que inicialmente tentou vocalizar e controlar, Bento XVI jogou a toalha.

O gesto evidencia a exaustão histórica de uma burocracia planetária, incapaz de escrutinar democraticamente suas divergências. E cada vez mais afunilada pela disputa de poder entre cepas direitistas, cuja real distinção resume-se ao calibre das armas disponíveis na guerra de posições.

Ironicamente, Ratzinger foi a expressão brilhante e implacável dessa engrenagem comprometida.

Quadro ecumênico da teologia, inicialmente um simpatizante das elaborações reformistas de pensadores como Hans Küng (leia seu perfil elaborado por José Luís Fiori), Joseph Ratzinger escolheu o corrimão da direita para galgar os degraus do poder interno no Vaticano.

Estabeleceu-se entre o intelectual promissor e a beligerância conservadora uma endogamia de propósito específico: exterminar as ideias marxistas dentro do catolicismo.

Em meados dos anos 70/80 ele consolidaria essa comunhão emprestando seu vigor intelectual para se transformar em uma espécie de Joseph McCarty da fé.

Foi assim que exerceu o comando da temível Congregação para a Doutrina da Fé.

À frente desse sucedâneo da Santa Inquisição, Ratzinger foi diretamente responsável pelo desmonte da Teologia da Libertação.

O teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos intelectuais mais prestigiados desse grupo, dentro e fora da igreja, esteve entre as suas presas.

Advertido, punido e desautorizado, seus textos foram interditados e proscritos. Por ordem direta do futuro papa.

Antes de assumir o cargo supremo da hierarquia, Ratzinger 'entregou o serviço' cobrado pelo conservadorismo.

Tornou-se mais uma peça da alavanca movida por gigantescas massas de forças que decretariam a supremacia dos livres mercados nos anos 80; a derrota do Estado do Bem Estar Social; o fim do comunismo e a ascensão dos governos neoliberais em todo o planeta.

Não bastava conquistar Estados, capturar bancos centrais, agências reguladoras e mercados financeiros.

Era necessário colonizar corações e mentes para a nova era.

Sob a inspiração de Ratzinger, seu antecessor João Paulo II liquidou a rede de dioceses progressistas no Brasil, por exemplo.

As pastorais católicas de forte presença no movimento de massas foram emasculadas em sua agenda 'profana'. A capilaridade das comunidades eclesiais de base da igreja foi tangida de volta ao catecismo convencional.

Ratzinger recebeu o Anel do Pescador em 2005, no apogeu do ciclo histórico que ajudou a implantar.

Durou pouco.

Três anos depois, em setembro de 2008, o fastígio das finanças e do conservadorismo sofreria um abalo do qual não mais se recuperou.

Avulta desde então a imensa máquina de desumanidade que o Vaticano ajudou a lubrificar neste ciclo (como já havia feito em outros também).

Fome, exclusão social, desolação juvenil não são mais ecos de um mundo distante. Formam a realidade cotidiana no quintal do Vaticano, em uma Europa conflagrada e para a qual a Igreja Católica não tem nada a dizer.

Sua tentativa de dar uma dimensão terrena ao credo conservador perdeu aderência em todos os sentidos com o agigantamento de uma crise social esmagadora.

O intelectual da ortodoxia termina seu ciclo deixando como legado um catolicismo apequenado; um imenso poder autodestrutivo embutido no canibalismo das falanges adversárias dentro da direita católica. E uma legião de almas penadas a migrar de um catolicismo etéreo para outras profissões de fé não menos conservadoras, mas legitimadas em seu pragmatismo pela eutanásia da espiritualidade social irradiada do Vaticano.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Como se matam os poetas

Publicado em 10 de fevereiro de 2013 no blog do jornalista Mauro Santayana.
 

Pablo Neruda

Como se matam os poetas

por Mauro Santayana

A justiça chilena determinou a exumação dos restos mortais do cidadão chileno Neftaly Ricardo Reyes, o poeta Pablo Neruda. Suspeita-se que Neruda tenha sido envenenado pelos esbirros de Pinochet, dias depois da morte de Allende, no golpe de 11 de setembro de 1973 – há quase 40 anos. Neruda, que se preparava para asilar-se no México – em uma concessão dos golpistas, sob pressão internacional – foi internado em uma clínica, com uma crise prostática. Ali, segundo denúncia de seu motorista, recebeu a falsa medicação que o matou.

Os poetas – e poucos que redigem poemas conseguem ser realmente poetas – pertencem a outra espécie de seres humanos. Encontram-se na vanguarda das emoções e dos sentimentos. Isso leva a maioria deles a desfazer-se dos escolhos das circunstâncias e exilar-se em geografia e tempo alheios, mas sem perder a bússola da realidade, sem perder sua paisagem e sem perder o seu povo.

O Chile teve dois prêmios Nobel de Literatura. O primeiro foi outorgado, em 1945, a Lucila de Maria del Perpétuo Socorro Godoy Alcayaga, que usou o nome de Gabriela Mistral. Pablo e Gabriela foram amigos. Quando Gabriela fez 15 anos, em 1904, Neruda nasceu. Gabriela, com seu nome literário, homenageou dois grandes poetas de seu tempo, o italiano Gabriele d’Annunzio e o francês da Provença, Fréderic Mistral.

Pablo Neruda, com seu pseudônimo, prestou homenagem ao grande poeta tcheco do século 19, Jan Neruda – que denomina a mais bela das ruas de Praga e uma das mais bonitas do mundo, a que saí de Mala Strana e sobe ao castelo de Hradcany. Os quatro, ícones e discípulos, tiveram a marcá-los o sentimento nacionalista.

Matar poetas tem sido o grande prazer dos fascistas contemporâneos e dos tiranos de todos os tempos. O assassinato de Federico Garcia Lorca é conhecido. O autor de Romancero Gitano, traído, por medo, pelo amigo que o escondera, foi fuzilado nos primeiros dias da insurreição de Franco, por ordem do general Queipo de Llano. Neruda – que foi um dos melhores amigos do povo brasileiro – pretendia, do exílio, lutar contra Pinochet. É o que parece ter ocorrido contra Pablo Neruda. Matar de forma dissimulada é uma prática também dos serviços norte-americanos, como a CIA reconhece.

Há várias formas de matar os poetas. O fascismo, sendo o avesso do humanismo, é o assassinato permanente da poesia – e dos poetas. O franquismo, além de fuzilar Lorca, matou de tifo e tuberculose, na prisão, Miguel Hernández, aos 31 anos; e alguns outros, como Antonio Machado, de tristeza, solidão e angústia, no exílio.

Mesmo que não houvesse sido envenenado, Neruda morreu com o golpe. Morreu com os escolhidos no Estádio Nacional de Santiago, e chacinados por ordem do usurpador. Morreu com sua gente.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Entrevista de um patriota brasileiro: José Dirceu

Dirceu defende mobilização social contra ofensiva da direita

Para ex-ministro, partidos de esquerda e movimentos sociais precisam definir agenda e ‘organizar luta’

Por Joana Tavares, do Brasil de Fato, via Rede Brasil Atual

Publicado em 06/02/2013, às 12:30H
Belo Horizonte – Em um auditório lotado por militantes sindicais, de movimentos populares e ligados ao Partido dos Trabalhadores (PT), José Dirceu, ex-presidente do PT e réu da Ação Penal 470, apelidada pela mídia de “mensalão”, foi recebido com palmas e palavras de ordem. No dia 31 de janeiro, o PT estadual de Minas Gerais realizou um ato “em defesa do PT e dos direitos democráticos”, e também em desagravo ao ex-ministro e outros petistas condenados no Supremo Tribunal Federal (STF).

Estavam presentes representantes de diversas esferas do partido (prefeitos, deputados estaduais e federais, presidente do diretório municipal, de comissões legislativas e secretarias) que expuseram, em suas falas, a visão de que o julgamento da Ação Penal 470 foi um julgamento político, que teve a intenção de condenar, na figura de seus dirigentes, o PT, sua história e projeto de governo, como um ataque de uma oposição entrincheirada em setores do Judiciário e da mídia.

Último a falar, José Dirceu denunciou os elementos inconstitucionais do processo, reforçou que a ação não terminou, defendeu sua inocência e expôs sobre as reformas necessárias para o Brasil e o povo brasileiro. Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Dirceu fala sobre a direita no país, a regulação da mídia, a AP 470 e a reação do PT, além dos desafios e prioridades para a política nacional.

Brasil de Fato – Você colocou elementos na sua fala sobre o Judiciário e a mídia. Quem é a direita no Brasil hoje e como ela está se organizando?
José Dirceu – Historicamente, a direita representa classes sociais, os partidos também são representações. A coalizão de direita no Brasil hoje é a coalizão do PSDB, DEM, PPS, que se expressa numa coalizão parlamentar e em um conjunto de governos. Os setores mais organizados hoje, que acabam hegemonizando a direita, respondem mais a interesses do capital financeiro, do capital rentista e de setores do capital agrário. Quem procura dar coesão, palavras de ordem, são setores da mídia.
A questão do Ministério Público e outros setores do Judiciário é que eles estão construindo uma teoria, e estão construindo instrumentos e decisões judiciais que expressam a visão dos interesses dessa direita. Isso é legítimo se é feito no Parlamento. É possível mudar o Código Penal para a direita ou para a esquerda; não é verdade que o Código Penal não tem lado. É possível fazer uma lei de reforma agrária para de fato fazê-la ou uma lei que termine concentrando terra. Mas não é isso. Eles estão de certa maneira usurpando, procurando transferir esse poder para parcelas do Judiciário. Não diria que isso é uma corrente majoritária, porque ainda está em disputa.

Sobre o papel da mídia, você falou da importância de comunicar com o povo, da necessidade de um marco regulatório. Mas nesses 10 anos de governo não teria sido possível avançar no sentido de fortalecer uma imprensa alternativa, ou ter um projeto de comunicação mais robusto do próprio Partido dos Trabalhadores?
Se nós conseguirmos aprovar uma legislação que permita isso sim, mas nós não temos maioria no Congresso; todos sabemos disso. E o poder Executivo tem instrumentos limitados, por isso se fala em regulação. A regulação, como acontece nos outros países, é aprovada no Parlamento, ou por referendos. Por exemplo, foi aprovada a regulação de obras audiovisuais, há uma agência reguladora, que é a Ancine, que tem um fundo de R$ 1,2 bilhão, que defende a produção regional, a produção independente e estabelece regras e limites, inclusive impede o controle do capital estrangeiro em alguns setores.
Isso é regulação, como é também estabelecer limite de horário, idade, classificação. Há inclusive regulação de conteúdo, como a regulação de propaganda de bebida, como tem a possibilidade de regular a propaganda de certos alimentos. Isso nós queremos.
Outra questão é desenvolver uma imprensa. Para rádio e televisão, precisa de concessão, mas para a imprensa escrita, não. Você abre uma empresa e edita um jornal, uma revista. Isso depende da capacidade de organização das forças políticas de esquerda e populares, ou setores da sociedade comprometidos com determinados programas. A direita organizou seus meios de comunicação através de capitalistas e de empresas capitalistas.
O que nós não mudamos foi a forma de dar concessão, o direito de antena, uma concessão mais pluralista. Nós podíamos ter feito mais. Nós do PT, já que eu sou do PT, como também nossos governos. Mas isso não é a questão fundamental. Eu concordo e aceito a crítica que nós podíamos avançar mais, mas sempre é preciso lembrar que para mudar a lei é preciso ter expressão no Congresso Nacional.

Mas e a questão da publicidade oficial?
A publicidade do governo está regulada por leis. A minha interpretação é que nós poderíamos nos apoiar em dois artigos da Constituição – o artigo do pluralismo e o artigo do apoio à pequena empresa – para fazer uma distribuição diferenciada e não apoiada apenas na vendagem, na audiência. Nessa perspectiva nós poderíamos ter avançado mais.

Você mencionou que a Ação Penal 470 não está concluída. Quais são as perspectivas do processo?
É estarrecedor que um ex-ministro do Supremo faça um prefácio de um livro sobre o tema, sendo que a ação não terminou ainda. Isso demonstra o caráter político dela, de disputa política, de julgamento político do governo do Lula, do PT, e de certa maneira da esquerda. Eles quiseram transformar nisso essa ação e não apenas no julgamento de determinados crimes ou atos ilícitos praticados por dirigentes do PT. E não tem nada a ver com compra de voto nem com uso de dinheiro público.
Está mais do que provado que eram empréstimos bancários que foram entregues ao PT, sem contabilizar, de uma forma que infringe a legislação eleitoral, e tem questões bancárias, fiscais para analisar. Mas eles transformaram no famoso ‘mensalão’ e na questão de que havia dinheiro público que foi desviado, como se nós tivéssemos tirado dinheiro do Banco do Brasil. E nem é do Banco do Brasil, é da Visanet, que não é dinheiro público, vem de 0,1% de cada movimentação de cartão de crédito, é um dinheiro para propaganda. E a propaganda foi feita, há prova de que ela foi feita, como há prova que esses recursos saíram de dois bancos para duas empresas de publicidade, e depois para o PT.
Mas transformaram isso numa ação política de enfrentamento conosco, de julgamento histórico, como eles mesmos disseram: ‘o maior atentado à República e à democracia’, ‘o maior caso de corrupção da história do Brasil’, ‘o maior julgamento do século’. E isso é escandaloso, porque nós não tínhamos foro privilegiado, tinha que ser julgado por juiz natural, como aliás está acontecendo com o chamando ‘mensalão mineiro’, tucano, do PSDB.
Nesse julgamento do STF, eles inovaram, violaram abertamente o devido processo legal, a presunção de inocência, o domínio do fato. Condenaram por condenar, porque tinham que condenar.
Tudo isso durante quatro meses e meio. Onde já se viu a Suprema Corte parar para julgar 35 réus, sendo que só três tinham foro na Suprema Corte, e sendo transmitido pela televisão, canal aberto, o dia todo, dez minutos no noticiário todo dia no jornal de maior audiência do país, abertamente defendendo os pontos de vista da acusação, não dando o mesmo espaço à defesa.

Você acha que a esquerda e o PT responderam à altura esse ataque?
Estão respondendo, porque agora se trata também de um processo político, não se pode resolver essa questão a curto prazo, é uma questão de médio e longo prazo. Temos que ir acumulando força, e crescendo o movimento de opinião pública, na base da sociedade, apresentar nossas provas.
Além de fazer os recursos, que a Constituição nos permite, os embargos declaratórios, revisão penal, apelar às cortes internacionais, que garantem a jurisdição. O juiz não pode fazer o papel de acusação no Ministério Público, assim como não se pode condenar sem provas. Vamos usar todos os recursos que temos direito.

Na sua opinião, qual seria a agenda prioritária em que os movimentos sociais e a esquerda deveriam se engajar nesse momento?
Os movimentos sociais têm que se concentrar naquilo que é prioritário para cada movimento, cada um tem suas reivindicações conforme sua posição na sociedade. O movimento sindical e o movimento pela terra – os sem-terra e outros, como a Contag — já atingiram um grau que entendem que seus programas vão além da defesa de reivindicações porque entendem que são necessárias políticas públicas, estatais, para o conjunto da sociedade, por isso defendem também mudanças na estrutura política do país.
Mas a prioridade para o Brasil nesse momento é o enfrentamento dessa ofensiva da direita. A prioridade política. Sua outra faceta é uma reforma política, democrática, que pode passar por um referendo ou uma constituinte, já que o Congresso se recusa a fazer. O Senado já fez, mas fez a do voto proporcional. Aliás, aprovou o financiamento público, cláusula de barreira, voto em lista. Uma reforma que apoiamos.
Tem também a necessidade de aprofundar as reformas sociais e econômicas que o país precisa, para crescer de uma maneira sustentável, com distribuição de renda, que garanta a soberania nacional e a integração sul-americana. A agenda política é essa. Lógico que a regulação da mídia é importante, a denúncia da Ação Penal 470 é importante, mas é preciso fazer uma hierarquia de prioridades. Por isso é importante uma mesa que reúna todos os movimentos e os partidos políticos de esquerda, para organizar essa agenda e organizar a luta. É preciso mais mobilização no país, minha opinião sempre foi essa.

'MAG': a ponte itinerante da América Latina

Publicado em 7 de fevereiro de 2013 no portal de esquerda Carta Maior no Blog das Frases de Saul Leblon.


 
Quando quiser, e se um dia achar conveniente, o ministro Marco Aurélio Garcia - assessor internacional da Presidência da República desde o governo Lula - poderá escrever um dos livros mais interessantes destes tempos em que a América Latina deixou de ser o terreno baldio dos EUA.

Garcia, ou simplesmente MAG, como é tratado pelos mais próximos, participou diretamente ou testemunhou todos - repita-se, todos - os principais episódios da construção inconclusa da nova agenda regional, destinada a devolver aos povos latino-americanos o comando de seu destino histórico e geopolítico.

Ao lado de Samuel Pinheiro Guimarães e do ex-embaixador Celso Amorim, ele compôs o trio que definitivamente reposicionou a política externa brasileira no século 21.

E o fez para bem longe daquilo que ficou conhecido como 'a diplomacia dos pés descalços'.

Em 31 de janeiro de 2002, o então chanceler do governo FHC, Celso Lafer, submeteu-se ao humilhante ritual de tirar os sapatos no aeroporto de Miami. Uma imposição da segurança ianque, se quisesse ingressar no país.

Se essa condição um dia fosse imposta a MAG, o que aconteceria?

Alguma dúvida?

Nem 'eles', nem os seus assemelhados nativos, as tem.

Discreto sem nunca ser acanhado, MAG sabe a hora certa de ser contundente com os poderes e os poderosos que nutrem justificados temores em relação a ele.

Professor aposentado do Departamento de História da Unicamp, esse gaucho que lecionou também em universidades de Paris e Santiago, ocupou a vice -presidência da UNE nos anos 60 e, coisa que poucos sabem, exerceu um mandato de vereador em Porto Alegre, nunca foi visto, à direita ou à esquerda, como um assessor comum.

Seu nome é uma espécie de carimbo presente nos principais capítulos da luta política da esquerda brasileira nas últimas décadas.

Ecumênico nesse campo, com bom trânsito entre as variadas correntes políticas, de suas convicções mais fundas apenas Lula costuma às vezes ironizar: ' Ele não diz nada, mas batizou o filho de Leon...'

MAG coordenou o Programa de Governo do Presidente Lula nas eleições de 1994, 1998 e 2006.

Exerceu a mesma coordenação sobre o Programa de Governo da Presidente Dilma Rousseff, na eleição de 2010.

Na luta pela reeleição de Lula, antecedida da tentativa de impeachment contra o presidente com base na 'denúncia' do chamado 'mensalão', foi ele quem comandou a campanha vitoriosa.

O cerco conservador era absoluto.

Muitos dentro do próprio PT defendiam genuflexões à mídia.

Alguns, os mais afoitos, avocavam-se a prerrogativa de promover expedições 'pacificadoras' junto a donos de corporações que vergastavam o partido e o Presidente diuturnamente.

Traziam promessas de 'trégua' que nunca se confirmaram.

Ao contrário.

Reinava um clima de 'agora ou nunca'.

Insuficiente porém para dobrar a altivez política de MAG.

Em meio à beligerância ostensiva, às vésperas do primeiro turno, o então colunista de Veja, Diogo Mainardi, que dispensa apresentações, solicitou-lhe por e-mail uma entrevista exclusiva.

“Eu gostaria de entrevistá-lo por cerca de quatro minutos para um podcast da Veja. O assunto é a imprensa. Eu me comprometo a não cortar a entrevista,”, assegurava a solicitação que chegou à mesa de MAG.

A resposta, também por email, condensa a conhecida capacidade maguiana de associar mordacidade e contundente elegância:

“Sr. Diogo Mainardi,

Há alguns anos – da data não me lembro – o senhor dedicou-me uma coluna com fortes críticas. Minha resposta não foi publicada pela Veja, mas sim, a sua resposta à minha resposta -- aliás, republicada em um de seus livros. Desde então decidi não falar com a sua revista. Seu sintomático compromisso em não cortar minhas declarações não é confiável. Meu infinito apreço pela liberdade de imprensa não vai ao ponto de conceder-lhe uma entrevista”.

Explica-se o, digamos, 'desconforto' dos meios & dos mainards com a presença constante e ativa desse espírito altivo nos circuitos que decidem a política externa brasileira, desde 2003.

Derrubá-lo daí foi sempre o troféu cobiçado pelo conservadorismo local e forâneo.

A trajetória de MAG diz muito sobre essa obsessão fracassada.

MAG era o Secretário de Relações Internacionais do PT, em 1990, quando foi criado o Foro de São Paulo.

Seu objetivo estratégico: promover a nucleação de todos os grupos de esquerda da América Latina e Caribe.

Para quê?

Para lançar as sementes de uma integração latinoamericana e caribenha oposta à agenda regional secularmente subordinada aos impérios.

Remonta daí a sua imbatível rede de relacionamento com lideranças e forças regionais que hoje estão no poder, exercem cargos relevantes na estrutura do Estado, ocupam cadeiras nos Legislativos, comandam partidos, dirigem organizações sociais.

Seu papel como ponte itinerante nesse diálogo agigantou-se no governo Lula, quando assumiu missões decisivas, em momentos graves e estratégicos da vida regional.

A maioria delas exitosas para decepção do conservadorismo que o mantém sob permanente suspicácia.

Os interlocutores da constelação de governos e lideranças progressistas da AL e Caribe sabem com quem estão falando quando o telefone toca e é MAG que chama.

Perspicaz e fraterno, dono de um coração que rivaliza em generosidade com o tamanho de suas convicções, MAG coleciona amigos na grande pátria latinoamericana e caribenha que ajuda a delinear.

Dos prováveis aos mais improváveis.

A um Humala de perfil algo endurecido, candidato ainda engomado pela farda militar, MAG surpreendeu um dia ao sugerir: 'O senhor deveria se fazer acompanhar sempre de sua esposa; ela é muito inteligente --e muito bonita'.

De fato.

A carismática Nadine Heredia acabou se transformando em uma coadjuvante decisiva na renhida final das eleições peruanas de 2011, vencidas por Humala.

Hoje sua figura é cada vez mais popular. Com índices de aprovação superiores aos do marido, seu protagonismo suscita especulações de uma candidatura em 2016, se obstáculos jurídicos forem superados.

A eventual ascensão dessa nova estrela regional não surpreenderá MAG.

Como não o surpreendeu a do velho amigo Maduro, na Venezuela, bem como a de outras lideranças da grande constelação em cujos bastidores a sua presença sempre brilhou.

De volta de uma missão a Cuba, para onde fora enviado pela Presidenta Dilma em manifestação de alto zelo com a saúde do presidente Chávez, MAG submeteu-se a exames cardiológicos rotineiros no último sábado.

O cuidado preventivo diante da dura agenda de viagens que teria pela frente, antes e depois do Carnaval, desdobrou-se em uma cirurgia cardíaca.

MAG recebeu duas pontes de safena nesta 5ª feira. E passa bem.

Manifestações de toda a América Latina e Caribe evocam a sua rápida volta à estrada

Um caminho que ele conhece melhor que ninguém.

Um caminho que ainda não está pronto.

Mas que sem dúvida está sendo construído.

E que tem no acrônimo 'MAG' a marca de uma pavimentação de trechos históricos, até então considerados intransponíveis.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

DCE da USP repudia denúncia do MP: “Ataque ao movimento estudantil”

Publicado em 6 de fevereiro de 2013 no VioMundo.
 


Nota do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP

O DCE-Livre da USP vem a público repudiar a denúncia apresentada pelo Ministério Público de São Paulo à Justiça no dia 5 de fevereiro, que acusa os 72 estudantes, que foram detidos durante a violenta reintegração de posse do prédio da reitoria em 2011, de danos ao patrimônio público, pichação, desobediência judicial e formação de quadrilha.

Além disso, também repudia as declarações da promotora Eliana Passarelli, autora da denúncia, à imprensa que chama os estudantes de bandidos e criminosos.

Na nossa opinião, a intenção de criminalizar esses estudantes é um ataque ao movimento estudantil e aos movimentos sociais de conjunto, que possuem o direito democrático de livre expressão e manifestação.

Um dos principais problemas existentes hoje na USP é a falta de democracia na gestão da universidade, expressa hoje pelo atual reitor João Grandino Rodas. O convênio assinado com a polícia militar não foi em nenhum momento debatido junto à comunidade universitária e não solucionou o problema da falta de segurança que até hoje permanece dentro da Cidade Universitária.

Por isso, em setembro de 2012, o DCE-Livre da USP realizou um ato público na Faculdade de Direito da USP contra a criminalização dos estudantes e em defesa da democratização da universidade, que contou com a presença do senador Eduardo Suplicy, do deputado estadual Carlos Gianazzi e do jurista Fábio Konder Comparato, além de diversos movimentos sociais.

Lutar por democracia e diálogo não é crime. O DCE-Livre da USP se posiciona contrário a qualquer tipo de punição a esses estudantes e convoca os demais alunos a seguirem na luta pela democratização da universidade.

São Paulo, 05 de fevereiro de 2013

DCE-Livre da USPGestão Não Vou Me Adaptar

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A matemática esperta da ‘Folha’

Publicado em 4 de fevereiro de 2013 no portal de esquerda Carta Maior - Blog das Frases por Saul Leblon.

Manchete da Folha deste domingo estampa 'grave denúncia':

"Programa social consome a metade dos gastos federais".

Só profissionais da dissimulação conseguem vender como jornalismo manipulações grosseiras como essa, feitas para alimentar o alarido da agenda conservadora.

A saber:

a) que a política econômica do governo do PT não passa de uma bolha de consumo atrelada à enorme 'bolsa esmola', ao custo de R$ 405,2 bi;

b) que o consumo de massa é mantido de forma artificial, com gastos assistencialistas - e reajuste abusivo do salário mínimo, a pressionar o sistema previdenciário;

c) que tudo isso é inflacionário porque desprovido da expansão dos demais ingredientes que sustentam a oferta (como se o hiato do investimento fosse um fato cristalizado);

d) que o conjunto subtrai recursos ao sagrado superávit primário, impedindo o Estado de canalizar maiores fatias aos rentistas da dívida pública;

e) que a solução é restaurar a agenda do Estado mínimo, com política salarial que desguarneça o núcleo desequilibrador da pirâmide de renda: o ganho real de 60% do salário mínimo no governo Lula.

Em resumo: PSDB na cabeça em 2014.

Dois disparos à queima-roupa denunciam a pistolagem atirando deliberadamente contra os fatos no alerta domingueiro da Folha.

A 'grave denúncia' apoia-se, de um lado, num truque contábil.

Ele pode ser pinçado de dentro de uma única e miserável linha do texto:

'Foram excluídos da conta os encargos da dívida pública'.

A partir daí até camelo passa no buraco da agulha.

A pequena confissão subtrai do conjunto das comparações algo como R$ 200 bilhões.

Média do que custou o pagamento dos juros da dívida pública nos últimos anos.

Só os juros.

Não estão computadas aqui as despesas com amortizações e rolagens, que elevam o fardo rentista a quase 50% do gasto orçamentário federal, engessando-o para investimentos em saúde, educação etc.

São 'pequenas' elipses.

Mas são elas que tornam possível entregar o percentual encomendado pela manchete domingueira: 'programa social consome a metade dos gastos federais'.

O segundo desvão da calculadora dos Frias engole aspectos cruciais da previdência social urbana.

No texto, ela é a ante-sala do inferno fiscal: equivale a 60% dos tais 'gastos sociais' do Estado brasileiro.

Um buraco de R$ 245,5 bi. (O Bolsa Família soma modestos 5% do total, R$ 20,5 bi, o que o impediria de sustentar a 'grave denúncia' da 'Folha')

A rigor tampouco a previdência o permite, exceto manipulada no liquidificador do jornalismo esperto.

Aos fatos.

A previdência urbana é superavitária desde 2007, graças à criação de 16 milhões de empregos com registro em carteira nos governos Lula e Dilma.

Em 2012, ela teve o melhor resultado de sua história: um superávit de R$ 25 bi.

O saldo cobre quase 35% do déficit da previdência rural, que estendeu o salário mínimo aos idosos do campo, privados de direitos trabalhista pelos mesmos interesses que hoje reclamam equilíbrio fiscal.

A transferência de uma renda mínima aos sexagenários rurais teve os seguintes desdobramentos:

a) a renda rural nos últimos seis anos cresceu 36% a mais do que o próprio PIB;

b) a previdência rural - que a agenda ortodoxa quer extinguir ou desvincular dos ganhos do mínimo - tornou-se um dos principais fatores de dinamização dos municípios no interior do país;

c) a década do governo Lula foi a primeira, em 60 anos, em que o êxodo rural no Brasil se estabilizou.

É uma pequena reviravolta histórica.

Deveria ser aprofundada, melhor debatida, retificada em suas lacunas, pesquisada e fortalecida em seus desdobramentos virtuosos.

Mas quem o fará?

Por certo, não a matemática esperta da Folha.

Por precaução eleitoral, ela cuida também de desqualificar os desdobramentos efetivos da 'gastança social' que condena.

A mensagem do conjunto reflete a mentalidade regressiva de um conservadorismo incapaz de se renovar.

Exceto em seu repertório de truques e traques, entre os quais se abriga o recado domingueiro da Folha:

'Devolvam o país aos mercados; eles sabem como fazer a coisa certa'.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

São Paulo: Segunda-feira, dia 4, ato em apoio a Hugo Chavez


Vanessa Silva, via Vermelho

Na segunda-feira, 4 de fevereiro, movimentos sociais de todo o Brasil se reunirão em São Paulo em apoio à Revolução Bolivariana e ao presidente venezuelano, Hugo Chavez, que se recupera de uma cirurgia para a retirada de um câncer, em Havana (Cuba). A data marca o histórico levante de 1992, quando Chavez liderou um movimento popular que resultou em uma tentativa de golpe de Estado e na sua prisão.

O levante representa o início de um período de lutas pela autodeterminação dos povos latino-americanos, por um continente mais justo, solidário e livre do neoliberalismo. Passaram-se anos até que em 2 de fevereiro de 1999, Chavez foi eleito pelo voto popular dando início à consolidação do modelo antineoliberal e anti-imperialista, vigente nas últimas duas décadas não só na Venezuela, nas na América Latina.

O evento de 4 de fevereiro, que será realizado em frente ao Consulado Geral da República Bolivariana da Venezuela em São Paulo, é parte de “uma jornada continental de solidariedade ao povo venezuelano e à Revolução Bolivariana, construída pela Articulação Continental dos Movimentos Sociais da Alba [Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América]”, como esclareceu Pedro Paulo Bocca, da secretaria cooperativa da Alba. No mesmo dia, ocorrerão atos similares em diversos países da América Latina.

A Articulação dos Movimentos Sociais da Alba no Brasil é integrada por cerca de 20 entidades, e também por partidos políticos e outros movimentos como a Marcha Mundial das Mulheres, o Cebrapaz, o Movimento dos Sem Terra (MST), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Levante Popular da Juventude, o Conselho Mundial da Paz (CMP), a Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), e outras organizações camponesas, de juventude e de mulheres.

A Venezuela no Brasil

Apesar da maior aproximação entre os dois países nos últimos anos, ainda há pouca informação a respeito da Venezuela na imprensa brasileira. Isso se deve, diz Bocca, ao “forte bloqueio midiático sobre a Venezuela no Brasil. A mídia burguesa demoniza o presidente Chavez e minimiza as transformações sociais em curso no país”.

Na visão dele, os movimentos sociais têm outra. “Quando falamos sobre a Venezuela aos movimentos sociais e para o povo em geral, a receptividade é alta, pois o povo se identifica com o processo, com as lutas e os ganhos da Revolução Bolivariana. Por isso é sempre importante seguir pautando a Venezuela, seja através de atos de rua, ou por nossos meios de comunicação alternativo, redes sociais, etc”.

Ele ressalta ainda que o “Brasil vem sendo um parceiro estratégico da Venezuela no contexto político internacional. Ainda que não faça parte da Alba, foi central para a entrada da Venezuela no Mercosul, bem como para o fortalecimento de iniciativas conjuntas como a Celac [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos] e a Unasul [União das Nações Sul-Americanas]”.

Serviço

Dia: 4 de fevereiro, segunda-feira

Horário: 16 horas

Local: Consulado Geral da República Bolivariana da Venezuela

Rua General Fonseca Teles, 564 – Jardim Paulista

São Paulo – SP