sexta-feira, 8 de março de 2013

Saul Leblon: Chávez e a fita métrica do conservadorismo

Publicado em 6 de março de 2013 no portal de esquerda Carta Maior no Blog das Frases de Saul Leblon.

As fotos são do Conversa Afiada.


Quando mede o tempo histórico na América Latina, a régua conservadora irradia uma ambiguidade sugestiva.

Nas medições à esquerda, identifica extensões anacrônicas de um tempo morto. Fantasmas de um mundo que na sua métrica não existe mais.

Exceto como detrito histórico.

Entre os fenômenos jurássicos estariam lideranças 'populistas', a exemplo da exercida pelo falecido presidente Chávez – pranteado agora em massa por um povo a quem favoreceu um primeiro degrau de cidadania e dignidade.

Enquadram-se nas mesmas polegadas da régua arestosa Lula, Evo Morales, Correa, Cristina, Mujica e, mais recentemente, Dilma.

A mídia dominante ecoa a régua discricionária, estendendo seu preconceito às políticas de emancipação social implementadas por esses governantes.

Sintomaticamente, não adota o mesmo peso e medida quando se trata de dimensionar a natureza dos graves constrangimentos estruturais, acumulados em séculos de hegemonia conservadora na região.

Mencione-se os mais óbvios.

Uma distribuição de renda iníqua; serviços públicos indignos; concentração patrimonial monárquica; estruturas produtivas imiscíveis com demanda popular; dependência colonial asfixiante.Uma elite empresarial cuja única pátria é o lucro e a capital, Miami.

A dualidade conduz a desdobramentos singulares.

Como explicar a aderência popular de líderes e projetos que, a julgar pela narrativa dominante, levitam em sociedades intrinsecamente modernas, distorcidas apenas pela anacrônica presença de demagogos ?

Oxímoros como 'autoritarismo democrático' tem sido cunhados pelo jornalismo conservador.

É notável o esforço para harmonizar o inenarrável.

As veias abertas de uma América Latina que, quanto mais moderna aos olhos da elite, mais sangra pelo cotidiano de seu povo.

Um caso exclamativo é o da reforma agrária.

'Verbete incluído no arquivo morto da história em todo o mundo', sentencia o padrão métrico dominante.

Como tal, uma discussão sequer admitida fora do carimbo ideológico que a sepultou.

Todavia, mais de 50% dos 870 milhões de famintos existentes no mundo vivem onde menos se espera que a fome possa dar as cartas: junto à terra.

Não apenas isso.

Quatrocentos milhões de pequenos proprietários rurais do planeta tem área insuficiente para a própria sobrevivência.

Menos de dois hectares, em mpedia, calcinados pela aridez tecnológica.

Contam apenas com a força de seus braços para enfrentar , e perder, cotidianamente, a luta contra a miséria.

Os maiores bolsões de fome e de pobreza do globo estão no campo, que ainda abriga 49% da humanidade.

A metade da pobreza latino-americana vive aí.

A metade da pobreza brasileira está no Nordeste e a metade dos nordestinos mais pobres habita a área rural.

Há dezenas de milhares de famílias paupérrimas listadas no MST, dispostas a tentar um recomeço junto à terra.

O Brasil tem menos de 20% de sua demografia misturada ao espaço da agropecuária.

Mas somados os habitantes de 1.800 pequenos municípios cuja orbita gravita no entorno da terra, nunca tantos brasileiros viveram no mundo rural.

Formam hoje um contingente quase equivalente a uma Argentina.

Lateja a percepção de que algo precisa mudar na estrutura agrária do país e do mundo para que a luta contra a fome e a pobreza possa acelerar o passo.

É mais que velocidade.

Está em jogo percorrer uma travessia estrutural que o presente deve às mazelas do passado trazidas ao século 21.

Diante do complexo emaranhado de tempos históricos e desafios sociais, fica difícil dissociar o tom do editorial do Globo desta 3ª feira, sobre o 'anacronismo da reforma agrária', de um mero rompante de classe.

A que fez 1964.

Com o título 'A comprovada falência da reforma agrária', o diário da família Marinho capturou a seu favor a autocrítica do governo.

A gestão Dilma, que beneficiou o menor número de assentados desde 2003, reconheceu --finalmente-- a indigência a que estão relegados boa parte dos assentamentos no país. A presidenta se comprometeu com a Contag, esta semana, a retificar esse percurso e a sua velocidade.

Foi a deixa. O Globo disparou a conclusão prevalecente em sua régua histórica.

A reforma agrária sempre figurou no Brasil como uma das pendências históricas mais indigestas ao estômago conservador.

Há 49 anos, no dia 31 de março, foi uma das agulhas mais operosas em cerzir o golpe militar.

Por mais de duas décadas, ele calaria a necessária discussão democrática das reformas de base, focadas no legado asfixiante do conservadorismo ao desenvolvimento brasileiro.

Entre elas, a estrutura de propriedade da terra.

Na ótica dos interesses que, já àquela altura, atribuíam o epíteto de 'demagogo e populista' aos que empunhavam essa bandeira, o debate reprimido caducou.

Com a palavra, 'O Globo' desta terça-feira, 5/02/2013:

"36% das 945.405 famílias assentadas (ou 339.945) sobrevivem do Bolsa Família, por terem renda abaixo do limite divisor da miséria".

"Não se realizou o sonho da redenção social por meio da divisão de terras. Foram distribuídos 87 milhões de hectares, 10,8% do território nacional, e, mesmo assim, metade dos assentados não sobrevive sem a ajuda assistencialista do Estado".

"Diante deste quadro, o governo age de maneira sensata ao dar prioridade à tentativa de corrigir os assentamentos existentes em vez de instalar outros".

"Espera-se que, num segundo momento, o governo se convença de que a modernização da agricultura e a própria urbanização do país jogaram na lata de lixo da História a reforma agrária, tema de meados do século passado, de um Brasil muito diferente do de hoje".

A síntese feita pelo editorial conservador é ardilosa.

Estampa a fotografia realista de um resgate de náufragos.

Acompanhada da legenda capciosa.

Nela, os responsáveis pelo transatlântico afundado atribuem o desastre ao predomínio de feridos, fracos e desfalecidos entre os passageiros.

Tem sido um pouco essa a tônica do jornalismo dominante ao tratar da ressurgência de agendas, lideranças e processos políicos incompatíveis com a métrica da modernidade capitalista na América Latina.

A ênfase nas dificuldades – reais – da reforma agrária tardia, perseguida em nosso tempo, segue o padrão de menosprezo e veto.

E evoca a pergunta do poema de Drummond diante da pele estendida no chão:

'O que sei do tapir senão a sua derrota?'

A ditadura brasileira sustentada por veículos que hoje destinam a reforma agrária ao lixo da história promoveu uma das diásporas rurais mais fulminantes do século 20.

Aquilo que se convencionou chamar de 'modernização conservadora do campo' cometeu no Brasil, no espaço pouco superior a duas décadas, uma transição rural/urbana que países como os EUA demandaram um século para completar.

Mais de 30 milhões de pobres do campo foram empurrados para periferias conflagradas das grandes metrópoles, entre os anos 60 e 80. Um exército de reserva pronto para o uso e o abuso do projeto de modernidade da elite.

Cinturões urbanos sem cidadania explodiram por todo país.

A grande produção capitalizada, mecanizada e subsidiada --em níveis de deixar corado o orçamento atual da reforma agrária e da agricutura familiar-- deu conta de suprir a demanda interna por alimentos. Fez do Brasil um dos maiores exportadores agrícolas do mundo.

A um custo nem sempre relacionado.

O mais paradoxal deles, a fome.

A fome urbana e rural espraiou-se durante décadas abafada e esquecida pelo noticiário econômico e político; e só mitigada com a extensão do Bolsa Família a mais de 50 milhões de brasileiros na atualidade.

Não por acaso o PT chegou ao governo, em 2003, com a bandeira do Fome Zero.

Execrada, recorde-se, pelo jornalismo dominante.

Ainda hoje, ventríloquos resistem em admitir a existência da fome no país.

Talvez por ser um dos produtos mais representativos do capitalismo agalopado que ajudaram a implantar a partir de 64.

Por certo, a reforma agrária adequada ao século 21 ainda não foi decifrada pelas forças e lideranças progressistas que se debruçam sobre o tema.

Reside aqui, talvez,uma das suas grandes fragilidades.

Hesita-se em admitir a necessidade de um aggiornamento na forma e no conteúdo dessa agenda em nosso tempo.

Uma das chaves da atualização certamente passa pelo tema ambiental.

O governo ensaiou a resposta nessa direção com os projetos de assentamentos agroflorestais.

Mas sem atribuir-lhes a centralidade de uma diretriz estratégica.

A questão agrária e a urgência climática têm sido uniformemente negligenciadas, ademais, no debate estratégico da frente progressista que apoia o governo, dentro e fora do PT.

Talvez não seja um mero acaso.

Talvez sejam agendas gêmeas, indecifráveis em separado no mundo atual.

Uma, remanescente do legados das elites do século 19; a outra, contemporânea da exacerbação capitalista em nossos dias.

Juntas, entre outras, justificam a presença vigorosa de lideranças progressistas, e de processos revolucionários que, a exemplo de Chávez e do chavismo, não cabem na fita métrica conservadora.

A comoção popular que tomou conta da Venezuela nos últimos dias questiona a mídia e dá ao líder bolivariano a dimensão política transformadora que o conservadorismo sempre lhe negou.

As imagens de um povo que irrompe para a história em luto vermelho hipnotizam o mundo e falam mais que mil palavras.

Sobretudo, dão voz a um sentimento e a um processo tortuoso, difícil, de luta por direitos e emancipação que o jornalismo dominante sempre ocultou e negou.

Agora nao consegue mais esconder.

Nem explicar.



 
 
 
 

terça-feira, 5 de março de 2013

Hugo Rafael Chávez Frias 1954-2013

"Para aqueles que me desejar a morte, desejo-lhe uma vida longa, para que eles possam ver a Revolução Bolivariana continuar a progredir de batalha para batalha e à vitória após vitória."
Hugo Chávez

28 de julho de 1954 - 5 de março de 2013

domingo, 3 de março de 2013

Thomas Castilho: O que realmente se esconde em Oruro

Publicado em 3 de março de 2013 no VioMundo.

A melhor análise desse fato lamentável que li.

Imprensa alimenta relação ambígua com as torcidas organizadas: demoniza-as, mas, ao mesmo tempo, as utilizam para promover o espetáculo

Thomas Castilho, especial para o Viomundo

Poucos assuntos parecem atingir um consenso tão grande como as torcidas organizadas. O senso comum não hesita em achar que se trata de gente desqualificada, criminosos travestidos de torcedores, marginais. Os predicados variam ao gosto de quem escreve e de quem lê.

Mas é real, também, que elas contribuem bastante para que esse preconceito se dissemine, assim como a atuação medíocre do mainstream do jornalismo brasileiro que já não se dá o trabalho de apurar os fatos, e condena por antecipação.

A morte do garoto Kevin descortinou esse quadro como nunca antes, além de evidenciar uma série de incongruências no futebol latino-americano, em todas as suas instâncias.

Após viver 10 anos a realidade dos Gaviões da Fiel, entre 1992 e 2001, de maneira mais ou menos intensa, sendo apenas um associado, como diretor ou conselheiro, aprendi que as torcidas compõem um ambiente mais heterogêneo e complexo do que possa parecer. Não há, em nossos dicionários, adjetivo capaz de qualificar universo tão vasto de seres humanos. Seus associados mais ativos, contudo, são em grande parte jovens entre 17 e 25 anos, cheios de energia e disposição, a procura de um sentido para a vida. E encontram nas torcidas um ambiente propício para manifestar seu amor latente, sua vontade de ser alguém, e também sua violência.

A pesquisadora Heloísa Reis, da Unicamp, talvez a única estudiosa sistemática da violência e das torcidas organizadas no Brasil, porém, ensina: “As raízes da violência (ou violências, grifo meu) relacionada ao futebol estão na sociedade brasileira. A formação de indivíduos apáticos ou agressivos e violentos ocorre a partir de sua sociabilidade primária, quando já podem ser percebidas manifestações agressivas ou apáticas: que serão mais explicitadas na juventude, podendo permanecer na fase adulta.”

No caso do futebol, seria ingênuo dissociar a violência do torcedor da violência do policial, da violência do organizador, da violência do poder público, da impunidade, do consumo de álcool – que tem a mídia como principal estimuladora do consumo (Reis H., Violência e Futebol).

Mas por que eu estou falando de violência? Estou falando de violência porque o episódio em Oruro foi protagonizado por torcedores organizados. E para todos, isso basta. É simples assim?

Então vejamos. Há imagens (aqui) e testemunhas, entre elas algumas que afirmam que o sinalizador quase atingiu aos próprios brasileiros, sem se esquecer do réu confesso (aqui). Ah, mas ele é Laranja.

Ainda não conheci uma mãe que se dispusesse a se colocar em frente às câmeras da Rede Globo para dizer ao Brasil que seu filho é o demônio encarnado como propagado aos quatro ventos através do rádio, da televisão, dos jornais, e das redes sociais, com objetivo de salvar a pele de um suposto responsável maior de idade (aqui).

Tem que ser bem laranja para defender a tese. Além disso, o sinalizador foi disparado logo após um gol (aqui). Geralmente, nas arquibancadas, quando acontece um gol do seu time, sua torcida comemora. Não há muito tempo para pensar em atirar sinalizadores dentro do crânio de adolescentes.

Então por que continuar a falar sobre violência? Só porque o torcedor pertencia a uma torcida organizada? Sim, a lógica parece ser exatamente essa.

Um dos pontos que mais chama a atenção é a relação ambígua que a imprensa alimenta com as torcidas organizadas. Ainda que já tenham recebido todas as adjetivações possíveis e imagináveis, são essas mesmas torcidas que são utilizadas para promover o espetáculo. Grande parte dos jornalistas e cronistas esportivos, ou não (o tema é tão consensual que até intelectuais de áreas diversas se arriscam), destilam seu preconceito e ignorância temática durante os programas de televisão.

Contudo, nos intervalos, o que não faltam são imagens de torcedores uniformizados fazendo festa nos estádios. Bandeiras, cantos, papéis picados e, pasmem, muitas vezes, sinalizadores. O jornalista Juca Kfouri, por exemplo, ainda que acredite ser uma infâmia alguém se arriscar a “defender” (seja lá o que queira dizer isso) torcidas organizadas, recheou o seu livro Corinthians, paixão e glória de fotos dessas mesmas torcidas. Resumidamente, o lado belo das torcidas serve apenas para promover o evento e render uns trocados, sem dar a elas qualquer direito à voz, qualquer direito à defesa.

Mas, partindo do pressuposto de um ato não-intencional, na hora do gol, ao acender um sinalizador que é utilizado em estádios para justamente promover o evento e fazer a festa, por que não um pouco mais de complacência e coerência num momento triste e delicado como esse?

Descarregar toda a responsabilidade do episódio em cima de um garoto de 17 anos que teve a infeliz ideia de acender um sinalizador para comemorar um gol irá prevenir outras mortes?

Manter 12 torcedores presos, sem que tivessem tido qualquer participação no episódio, apenas porque pertencem a torcidas organizadas, para saciar a sede de justiça da opinião publicada e daqueles que a reverberam, irá fazer com que os sinalizadores, ou parte deles, sejam proibidos?

Ah, mas dois deles tinham sinalizadores do mesmo lote. Sim, mas nesse estádio pirotécnico, os sinalizadores foram proibidos? Então por que as imagens mostram um faixa de torcida boliviana incandescente somada a dezenas de sinalizadores queimando sem qualquer tipo de incômodo (aqui)?

Por que a polícia, segundo relatos, não teria feito revista (aqui)? Será que foi porque o clima entre os torcedores era amistoso (aqui)?

Caso não fosse amistoso, será que os próprios torcedores do San José teriam ido até a prisão prestar solidariedade aos torcedores presos (aqui)? Torcedores organizados não são animais que sabem apenas se matar? Confuso isso, não?

Afinal, esse material era ou não proibido? O que diz o estatuto da Conmebol (aqui)? Caso não fosse, quem libera a entrada? Só Corinthians e corintianos merecem ser punidos, ainda que, o embaixador brasileiro e o advogado da embaixada do Brasil apontem diversas incoerências no inquérito (aqui e aqui)? Ainda que o histórico de punições no futebol sul-americano pareça ser de escassa jurisprudência (aqui e aqui)?

Por que não uma visão um pouco mais equilibrada e imparcial, de modo a evitar que eventos como esse voltem a se repetir?

Que as punições sejam justas e responsabilizem a todos, além de torcedor e Corinthians – Conmebol, San José, policiamento, quem comprou, quem distribuiu, quem vendeu. Não apenas a parte mais fraca da estória, e da história. Assim, talvez pudéssemos acreditar que esse fato não servirá apenas para saciar sentimentos mesquinhos travestidos de luta por justiça.

Afinal, a Conmebol vai continuar a permitir jogos em pequenas cidades a quase 4.000m de altitude, sem estrutura e sem que o clube local garanta a segurança do evento (aqui)? Será capaz de tomar medidas outras que não escolher bodes expiatórios para maquiar sua própria incompetência e emitir notas de pesar (aqui)? Continuará tendo suas decisões sendo tomadas de maneira arbitrária, sem que sejam pelo menos apurados os fatos (aqui)?

Continuaremos presenciando jogadores sendo protegidos por escudos em cobranças de escanteio, sem que os mandantes sejam responsabilizados? Bandeirinhas continuarão sendo agredidos (aqui)?

Quem vende sinalizadores de navio no centro da cidade? Eles são vendidos legalmente? Estavam vencidos? E os responsáveis pelo policiamento, alguém recebeu, ao menos, uma advertência? A família de Kevin será indenizada pela Conmebol, terá seus direitos de consumidor respeitado, já que a perda de uma vida não pode ser reparada? A hegemonia das emissoras de TV na condução do futebol será incomodada, ou apenas terão sua audiência ampliada com essa punição?

Tudo isso faz do episódio emblemático.

Em Oruro, se escondem as responsabilidades da própria Conmebol.

Em Oruro, se esconde uma imprensa tacanha, incapaz de interpretar com imparcialidade os poucos
fatos que apura.

Em Oruro, se esconde uma sociedade hipócrita, que com nobreza ímpar se solidariza com a morte do garoto boliviano, mas que com uma conivência vergonhosa fecha os olhos para a execução de dezenas de jovens da periferia – em sua maioria negros – pelos grupos de extermínio que proliferam na PM paulistana, e finge não ver a dizimação de seus índios por pistoleiros pagos por latifundiários.

Em Oruro, esconde-se a mentira chamada Libertadores da América. No Brasil, se manifesta e grandeza do Sport Club Corinthians Paulista, nas atitudes pequeninas, incapazes de manter paixão clubística e preconceitos toscos afastados de assuntos sérios.

Mas e a violência? É mesmo, as torcidas. Segundo a pesquisadora Heloísa Reis, “os fatores geradores da violência são vários e complexos, mas pode-se afirmar que a disseminação de uma cultura em que violência e futebol sempre caminharam juntos contribuiu para a disseminação da violência nos estádios e dificulta a sua minimização. A ‘reação simbiótica’ entre esporte e violência não é exclusividade do futebol. Dunning afirma que todos os esportes competitivos conduzem ao aparecimento de agressão e violência (Elias e Dunning, 1992). Mas, por sua popularidade e seus valores masculinos, é no futebol que ela encontra um terreno fértil. É nesse conteúdo cultural que a expressão da violência física socialmente aceita e ritualizada aparece”.

Mas isso, isso é uma outra estória. O garoto Kevin não morreu devido à violência física, talvez a outras. Espero que não tenha morrido em vão. Justiça gera paz.

Thomas Castilho é professor de inglês