quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um poeminha pós moderno e "os otavinhos" na chuiça golpista!

Este post reune dois textos que apesar dos autores serem diversos, um complementa o outro e apesar de parecer piada, o assunto é muito sério.
"os otavinhos" (minúsculo mesmo, como eles) também tem um defeito grande e grave que é o de comemorar tentativa de golpe de estado (1932) e colaborar ativamente com ditaduras sangrentas (1964), além de acreditar que assassinos genocidas são heróis (bandeirantes).
E, o pior é que estes e aqueles estão em todos os lugares, principalmente entre os demos, os tucanos, os membros da elite branca paulista e golpista e, sinto dizer, até entre os petistas paulistas.

Poeminha pós moderno

Por Izaías Almada

Vou-me embora pra Miami
Lá sou amigo da grei
Lá tenho as dicas que eu quero
Dos golpes que aplicarei
Vou-me embora pra Miami
Aqui não sou nada feliz
Lá é que é tudo loucura
Tem gente de tudo que é lado
De Caracas são muitos esquálidos
De Cuba vão muitos gusanos.
De Buenos Aires, São Paulo, La Paz
Tem malandro contumaz
Todos se julgam de elite
Com inveja da gringolandia
Se amarram num badulaque
Que aqui é o ‘must’ IMPORTADO
Lá não sou branco, nem negro
No passaporte sou ‘outros’
Me olham meio de lado…
Não faz mal, tudo é pecado.
E quando estiver estressado
Dou um pulinho em Orlando
Chamo o Pateta e a Minnie.
Pra que me contem histórias
Do tempo em que eu era menino
E não sabia da vida
Vou-me embora pra Miami
Lá eu encontro de tudo
É outra civilização
Tem celular e i-pad
De última geração
Tem arma, rifle automático
Tem cocaína à vontade
De preço bom e barato
Protegida pela CIA
E por um grande aparato…
Tem garota de programa
Para gente namoricar
E quando estiver com saudade
Triste de dar dor no peito
E no barzinho eu quiser
Falar mal do meu país
Falo e me sinto feliz…
Pois lá sou amigo do Bush
Do Aznar e do Berlusconi
Essa gente à La Corleoni
Com quem no passado aprendi…
Vou-me embora pra Miami
Lá sou amigo da grei
Tenho e dou assessoria.
Pra quem? Jamais contarei.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo, autor – entre outros – do livro “Teatro de Arena: uma estética de resistência” (Boitempo) e “Venezuela povo e Forças Armadas” (Caros Amigos).


Os Otavinhos

Por Emir Sader

Os otavinhos são personagens típicos do neoliberalismo. Precisam do desencanto da esquerda, para tentar impor a ideia do tango Cambalache: Nada é melhor tudo é igual.

Os otavinhos são jovens de idade, mas envelhecem rapidamente. Passam do ceticismo – todo projeto de transformação deu errado, tudo é ruim, todo tempo passado foi melhor, a política é por natureza corrupta - ao cinismo –quanto menos Estado, melhor, quanto mais mercado, melhor.

São tucanos, seu ídolo é o FHC, seu sonho era fazer chegar o Serra – a quem não respeitam, mas que lhes seria muito funcional – à presidência. Vivem agora a ressaca de outra derrota, em barzinhos da Vila Madalena.

Tem ódio ao povo e a tudo o que cheira povo – popular, sindicatos, Lula, trabalhadores, PT, MST, CUT, esquerda, samba, carnaval.

Se consideram a elite iluminada de um país que não os compreende. Os otavinhos são medíocres e ignorantes, mas se consideram gênios. Uns otavinhos acham isso de si e dos outros otavinhos.

Só leem banalidades – Veja, Caras, etc. -, mas citam muito. Tem inveja dos intelectuais, da vida universitária, do mundo teórico, que sempre tratam de denegrir. Tem sentimento de inferioridade em relação aos intelectuais, que fazem a carreira que eles não conseguiram.

São financiados por bancos da família ou outras entidades afins, para ter jornais, revistas, editoras, fazer cinema, organizar festivais literários elitistas.

Fingem que gostam da França, mas são chegados a Miami.

Ficaram para trás com a internet, então abominam, como conservadores, reacionários idosos que é sua cabeça.

Se reúnem para reclamar do mundo e da sua decadência precoce.

Os otavinhos não tem caráter e por isso se dedicam a tentar denegrir a reputações dos que mantem valores e coerência, para tentar demonstrar que todo mundo é sem caráter, como eles.

Os otavinhos assumem o movimento de 1932, acham que São Paulo é a “locomotiva da nação”, que é uma ilha de civilização cercada de bárbaros por todos os lados. Os otavinhos detestam o Brasil, odeiam o Rio, a Bahia, o Nordeste. Odeiam o povo de São Paulo, querem se apropriar de São Paulo com seu espírito de elite.

Os otavinhos moram ou ambicionam morar nos Jardins e acham que o Brasil seria civilizado quando tudo fosse como nos Jardins.

Os otavinhos nunca leram FHC, não entendem nada do que ele fala, mas o consideram o maior intelectual brasileiro.

Os otavinhos são órfãos da guerra fria, da ditadura e do FHC. Andam olhando pra baixo, tristes, depressivos, infelizes.

Os otavinhos compram todas as revistas culturais, colocam no banco detrás do carro e não lêem nenhuma. Lêem a Veja e Caras.

Os otavinhos acham que a ditadura foi um mal momento, uma ditabanda.

Os otavinhos são deprimidos, depressivos, derrotados, desmoralizados, rancoroso, escrevem com o fígado. Os otavinhos têm úlcera na alma.

Os otavinhos odeiam o Brasil, mas pretendem falar em nome do Brasil, para denegri-lo, promover a baixa estima. Os otavinhos pertencem ao passado, mas insistem em sobreviver.
Postado por Emir Sader em 13/7/2011 no Blog do Emir (http://www.cartamaior.com.br)

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