quinta-feira, 10 de novembro de 2011

“Brasão da PM paulista é um tapa na cara do povo brasileiro”

Gilberto Maringoni: “Brasão da PM paulista é um tapa na cara do povo brasileiro”

Brasão da PM paulista celebra golpe militar e repressão a revoltas sociais

A mobilização dos estudantes da USP coloca em discussão o papel da Polícia Militar no trato das questões sociais. Valeria a pena estender a discussão até ao brasão da PM. Não é mero detalhe. Trata-se de uma exaltação da truculência contra a mobilização social. Na lista de feitos, entre outras coisas, há a exaltação a um golpe de Estado (1964) e louva-se a repressão a três mobilizações populares (Canudos, Revolta da Chibata, Greve de 1917). O artigo é de Gilberto Maringoni.

por Gilberto Maringoni, em Carta Maior, sugestão de ZePovinho e Gil Teixeira

Nesses dias em que se discute a presença ou não da Polícia Militar no campus da Universidade de São Paulo, por solicitação de seu reitor, João Grandino Rodas, vale a pena levantar uma lebre que poucos conhecem.

Independente da correção ou não da ocupação da reitoria da USP pelos estudantes, o certo é que eles foram vítimas de uma truculência policial desmedida. É mais um entulho da ditadura que volta e meia mostra que está aí acordado.Os alunos da USP poderiam ampliar suas demandas internas e se somarem a inúmeras entidades de defesa dos direitos humanos, familiares e jovens pobres que desde sempre têm sido vítimas da brutalidade das forças de segurança.

Poderiam começar sua ação examinando o brasão da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

O brasão em questão não é coisa pouca. É um tapa na cara do povo brasileiro.

O brasão, como obra de design, é primário. (Atenção, não é o logotipo estampado em uniformes e viaturas). Como símbolo, é uma ode à truculência e à brutalidade das classes dominantes. Trata-se da seguinte peça, conforme descrito no site da PM:

“O Brasão-de-armas da Polícia Militar do Estado de São Paulo é um Escudo Português, perfilado em ouro, tendo uma bordadura vermelha carregada de 18 (dezoito) estrelas de 5 (cinco) pontas em prata, representando marcos históricos da Corporação”.

Aqui vai ele. Eis a descrição da peça, sempre segundo o site:

ESTRELAS REPRESENTATIVAS DOS MARCOS HISTÓRICOS DA CORPORAÇÃO

1ª ESTRELA -15 de Dezembro de 1831,criação da Milícia Bandeirante;

2ª ESTRELA – 1838, Guerra dos Farrapos;

3ª ESTRELA – 1839, Campos dos Palmas;

4ª ESTRELA – 1842, Revolução Liberal de Sorocaba;

5ª ESTRELA – 1865 a 1870, Guerra do Paraguai;

6ª ESTRELA – 1893, Revolta da Armada (Revolução Federalista);

7ª ESTRELA – 1896, Questão dos Protocolos;

8ª ESTRELA – 1897, Campanha de Canudos;

9ª ESTRELA – 1910, Revolta do Marinheiro João Cândido;

10ª ESTRELA – 1917, Greve Operária;

11ª ESTRELA – 1922, “Os 18 do Forte de Copacabana” e Sedição do Mato Grosso;

12ª ESTRELA – 1924, Revolução de São Paulo e Campanhas do Sul;

13ª ESTRELA – 1926, Campanhas do Nordeste e Goiás;

14ª ESTRELA – 1930, Revolução Outubrista-Getúlio Vargas;

15ª ESTRELA – 1932, Revolução Constitucionalista;

16ª ESTRELA – 1935/1937, Movimentos Extremistas;

17ª ESTRELA – 1942/1945, 2ª Guerra Mundial; e

18ª ESTRELA – 1964, Revolução de Março.

Na lista, há a exaltação a um golpe de Estado (1964) e a uma rebelião oligárquica (1932). Louva-se também a repressão a três mobilizações populares (Canudos, Revolta da Chibata, Greve de 1917), ao levante comunista de 1935, a Coluna Prestes (1926) e homenageia-se outras missões cumpridas.

Há soldados e oficiais valorosos na história da Polícia Militar paulista. Há também vários elementos que compõem e compuseram sua banda podre. É da conta, acontece em qualquer agrupamento humano.

Mas manter um símbolo exaltando a repressão sangrenta e covarde a manifestações democráticas é um acinte à democracia.

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