sábado, 14 de janeiro de 2017

Marquês de Sade - trecho de obra 2


Ora, o homem custa alguma coisa para a natureza? E, supondo que possa custar, custa mais que um macaco ou que um elefante? Vou além: quais são as matérias-primas da natureza? De que se compõem os seres que nascem? Os três elementos que os formam não resultam da primitiva destruição de outros corpos? Se todos fossem eternos, não se tornaria impossível à natureza a criação de novos indivíduos? Se a eternidade dos seres é impossível à natureza, sua destruição é por conseqüência uma de suas leis.
A natureza nada poderia criar se não se valesse dessas massas de destruição que a morte lhe prepara: o que chamamos de fim da vida animal não é um fim real, mas simples transmutação, que tem por base o perpétuo movimento, essência verdadeira da matéria, que todos os filósofos modernos consideram como uma de suas primeiras leis. A morte, segundo esses princípios irrefutáveis, representa tão-somente uma transformação, uma passagem imperceptível de uma existência a outra...

Argumento do libertino Dolmancé no discurso de A filosofia na alcova 

Marquês de Sade, A filosofia na alcova

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