domingo, 23 de dezembro de 2012

Trecho de um livro de Michel Onfray (2)

Trecho do livro “A arte de ter prazer – por um materialismo hedonista”, de Michel Onfray.

... O hedonismo feuerbachiano supõe a redução da felicidade ao único real possível e não a mundos hipotéticos situados além da morte: a imanência contra a transcendência, os sentidos contra a essência, este mundo contra o além. Podemos ver aqui como que o primeiro princípio de uma filosofia hedonista: rematerializar a vida. Nessa hipótese, Feuerbach escreve: “Se a essência do homem é a sensibilidade e não um abstrato fantasmático – o “espírito” -, todas as filosofias, todas as religiões, todas as instituições que contradizem esse princípio não são apenas errôneas, são também fundamentalmente corruptoras. Se você quer melhorar os homens, torne-os felizes; mas, se quer torná-los felizes, vá as fontes de todas as felicidades, de todas as alegrias – aos sentidos. A negação dos sentidos está na fonte de todas as loucuras, maldades e doenças que povoam a vida humana. A afirmação dos sentidos é a fonte da saúde física, moral e teórica. A renúncia, a resignação, a abnegação, a abstração tornam o homem amargo, insatisfeito, infame, lúbrico, covarde, avaro, invejoso, sorrateiro, mau; o prazer dos sentidos, ao contrário, torna sereno, corajoso, nobre, franco, expansivo, compassivo, livre, bom. Todos os homens são bons na alegria, maus na tristeza; e a tristeza provém justamente de abstrairmos os sentidos, seja voluntária ou involuntariamente”. Por certo, em muitos trechos as páginas de Feuerbach cheiram a o século XVIII e seu quinhão de otimismo beato e de resolução dos problemas pelo coletivo. A confiança na humanidade aparece nos lugares-comuns veiculados pelo Século das Luzes e vincular a problemática da felicidade à do coletivo manifesta uma nítida marca do século XVIII. Todavia, o texto de Feuerbach vale pelo que anuncia e pelas intuições que revela. Assim o sensualismo, o monismo materialista, a preocupação biológica e fisiológica, o hedonismo e as teses que reencontramos em Freud sob a rubrica alienação, sublimação ou complexos.

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Págs. 214 e 215.

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